MAIS UM DOMINGO NO QUARTEL
Osvaldo Luiz Pastorelli
 
 

Era um domingo bonito de sol onde tivemos que limpar todo o material, a arma, os arreios, passar sebos para não ressecarem, engraxar o coturno, os sapatos, as fivelas dos cintos. Depois de toda essa trabalheira, pensei, logo após o almoço será reservado para o descanso, para o nosso sono de consumo. Porém, eu estava redondamente enganado.

- Quem quer moleza ficasse em casa no rabo da saia da mãe. - berrou o Sargento - Vamos, os cavalos precisam de banho e comida. Eles comem e tomam banho, não é só vocês, vamos, mãos a obras, seu lerdos.

Assim tivemos que tratar, lavar, ferrar os cavalos.

- Não esqueçam que a ferradura é o calçado do cavalo. - disse o Sargento.

Apesar de ter alguns cavalos ruins de ferrar, o que era pior era lavar os cavalos. Se fosse só jogar água, esfregar o animal, nada de mais. O pior era lavar o membro, com ele a mostra lavar todinho. O Sargento ficava em cima do pessoal.

- Vocês não lavam os seus? Então, o do cavalo também é preciso lavar. Vamos seus merdas, quero os animais totalmente limpos, lavados, brilhando. E não esqueçam os dentes também.

Uma vez só fiz a lavagem completa no cavalo que me que eu cuidava, das outras vezes, arrumava sempre uma saída para o Sargento não perceber. Mas naquele domingo, cansado, aborrecido, todo o pelotão passou a tarde toda na estrebaria. Procurávamos nos escondermos do Sargento, o que não adiantava, parecia que ele farejava.

- Pastorelli, saia daí e venha lavar esse cavalo, vamos moleza!

E assim passamos aquele domingo que prometia um dia de descanso, trabalhando.