MAIS DO QUE SUPÕE NOSSA VÃ TECNOLOGIA
Cris Dakinis
 
 

Ao ouvir Leila perguntar qual era seu celular, Paula respondeu, um tanto hesitante, ser de um modelo pequeno, compacto, prateado e com câmera, da marca... e passou a procurá-lo na bolsa, para conferir a fabricação e modelo do aparelhinho, de modo a satisfazer a curiosidade de sua amiga __ mas por que ela queria saber de seu celular? Ouviu uma risada prolongada de Leila, que esclareceu desejar saber, não da marca ou do modelo do aparelho, mas do número do celular de Paula, a fim de armazená-lo na agenda telefônica de seu novo aparelho. Continuaram rindo, juntas, as duas amigas sobre o equívoco ocorrido. E daí, passaram a comentar sobre os diversos modelos e recursos da telefonia celular. Logo estavam discorrendo sobre inúmeras outras inovações, que tão logo surgem, tornam-se obsoletas.

O assunto levou à nova aquisição de Leila. Um belíssimo exemplo de tecnologia avançada, que além de telefonar __ sua finalidade primordial, apresentava muitas outras funções: câmera com ampliação para fotos, recursos para filmagem e exibição de vídeos, além de espaço disponível para memória adicional, algo que Paula, em sua ingenuidade cibernética, achava que era desejável somente a um microcomputador. Paula reconheceu que tal engenhoca era uma espécie de "minicomputador" que telefonava também. Era sexta-feira, e como Paula não trabalharia no sábado, planejou para o dia seguinte, visitar algumas lojas de eletrônicos para conhecer novidades. Avaliou seu belo aparelhinho sobre sua mesa de trabalho... Havia um ano que o comprara e ficara feliz, à época, em saber que ele batia fotos e possuía internet, além de funcionar como agenda de telefones. Admitia que, praticamente, não utilizara o alcance de internet em seu aparelho, a não ser por alguns minutos, o que lhe causou um certo transtorno ao conferir a conta telefônica que se seguiu, pois a navegação pela internet através de um aparelho celular mostrou-se de valor elevado para seu orçamento. Esqueceu-se, desta forma, logo deste recurso. A câmera embutida quase não era utilizada, pois já acostumara-se à sua câmera em separado, um tanto antiguinha, mas que batia fotos perfeitas. Paula imaginou que não precisariam inventar mais nada em um aparelho telefônico celular. Achava ela isto, antes de ver o celular de sua amiga Leila, que só faltava ir para casa sozinho! Pôs-se a imaginar o volume do manual de instruções daquela bela e admirável nova aquisição de sua amiga.

No sábado, ao longo de seu passeio, que evidenciava um real objetivo de adquirir algo de "notório", dentre os eletrônicos, Paula viu de tudo: desde aparelhos celulares com câmeras embutidas de alta resolução de imagem, aos que disputavam, entre si, a vantagem de oferecer maior dimensão em polegadas de seus mostradores. Haviam os que gravavam vozes, filmavam vídeos curtos, exibiam filmagens, possuíam rádio e reproduziam músicas... Enfim, tudo o que vira no aparelho de sua amiga Leila. Vislumbrou uma variedade de modelos, dos mais versáteis desenhos e colorações. Admirou-se dos que exibiam tons perolados ou cores que iam do "rosa bebê" ao "rosa vibrante", a fim de atrair a cobiça feminina ou infantil. Encontrou, até mesmo, um modelo de cor dourada com pedrinhas reluzentes encrustadas, e ainda um outro cujas teclas em formato de coração possuíam aroma de frutas e toques de campainha com músicas das mais insólitas. Paula ria-se e sentia-se maravilhada a cada vitrine que visitava.

Mas não foram só aparelhos celulares que Paula visitou nas diversas lojas em que esteve. Tomou conhecimento de novidades de eletrônicos diversos, como os lançamentos para CD e DVD, e de vasto sortimento de aparelhos de televisão de tela com "plasma", além de inúmeras máquinas pequeninas com variadas finalidades recém-criadas pela tecnologia digital, que ela nem imaginara existir. Paula, porém, retornou ao setor dos celulares... haveria de obter algo, que além de telefonar, a distraísse, além de livrá-la de ser reconhecida como uma antiquária portando aquele seu aparelhinho defasado, pelo qual, já não nutria a antiga afeição. Novamente, Paula imaginou, com certo enfado, a extensão de informações do manual de instrução, que inevitavelmente, acompanharia a novidade que estava em iminência de comprar, mas seu impulso consumista de algo mais "evoluído em recursos" venceu. Encontrou um aparelhinho que mal lhe cabia nas palmas das mãos, todo estampadinho, com desenhos reluzentes. A moça tinha estes pendores de vaidade chamativa, possuindo o aparelho, por ela escolhido, uma singularidade que a agradou em muito: o mostrador, ao ser aberto, refletia como um espelho, podendo sua felizarda dona utilizá-lo para retocar o batom, por exemplo, se assim o desejasse. Tal modelo conquistou-a inquestionavelmente.

Segunda-feira seguinte, Paula mostrou, tão logo surgiu a oportunidade, sua nova aquisição à amiga Leila, que expressou desmedidos elogios ao aparelhinho. Paula achou graça. Como podiam pequeninas invenções, que em breve seriam superadas por outras, ainda mais fantásticas, fazer tamanho alarde? E teve uma idéia, que de início, pareceu-lhe um tanto "boba", mas decidiu experimentar colocar em prática e ver no que resultava. Veio-lhe à mente o seguinte: tudo poderia já existir em inovações pelo mercado tecnológico, bastava haver a necessidade de utilização do artigo, seguida pela demanda da desejada invenção, que ela provavelmente estaria disponível no mercado. E pôs-se a testar a curiosidade de sua amiga Leila, assim como ela própria fora testada em relação às inovações dos celulares.

_ Leila, você sabia que eu me senti bastante tentada a adquirir uma máquina digital muito útil?

_ Útil para fotos? Máquina digital fotográfica? __ perguntou a amiga.

_ Não! Uma máquina para a qual basta a gente falar, pausadamente, uma frase, que ela imprime o que lhe é dito em uma etiqueta auto-adesiva. Um achado!

_ Seria muito interessante que nosso chefe se interessasse por ela! Mas para quê ter uma máquina desta em casa? O que você necessitaria tanto etiquetar em casa?

Paula prosseguiu com sua brincadeira...

_ Encontrei, também, belos pares de sapatos que possuem um dispositivo para massagear os pés. Toda a operação de massagem segue instruções baseadas em conhecimentos da medicina oriental... muito interessante!

_ Poxa! Você andou um bocado atrás de novidades, hein? Ah, mas estas coisas acopladas em calçados não devem funcionar tão bem como massagem manual. A temperatura das mãos durante a massagem faz diferença, sabia? Mas, de fato, se funcionar direitinho, e não sendo o calçado pesado, deve ser bem relaxante... Custavam caro estes sapatos?

Paula desatou a rir, e confidenciou não ter visto nem os calçados nem a máquina de etiquetas. Tudo invenção sua! Riram muito as duas da criatividade de Paula. Mas ficaram as moças a cismar... E se procurassem mais um pouquinho por aí? Será que encontrariam as tais invenções criadas, mentalmente, por mera diversão? Possivelmente... E, quem sabe, em diversos modelos e cores.