O RETRATISTA
William H. Stutz
 
 

- Junta as crianças, o retratista vem ai.

Calada a mulher arrumou as crianças. Uma a uma, da menorzinha de colo ao primogênito.

Penteou calmamente as madeixas da filha. Que mesmo diante do espelho de cristal reluzente parecia não se ver, olhar perdido em sonho adolescente.

Aos garotos os ternos engomados. Para elas os laços e cândidos vestidos de puro e alvo algodão com bordados, branco sobre branco.

Crianças prontas, pôs-se a arrumar. Soltou os longos cabelos e deixou-os escorrer por suas costas, nunca saia à rua ou à sala de casa com eles soltos. Em turbante os enrolou e em coque passou longo prendedor de marfim.

No jardim de inverno pose feita. Ele postado às costas da esposa, mão direita discretamente a repousar em seu ombro. A pequena no colo, o filho mais velho em pé ao lado do pai. A filha sentada no chão aos pés da mãe, em piso de tábuas corridas sobre tapete persa.

O retratista, experiente, já havia colocado a placa de filme em sua máquina, e num levantar de mãos que instintivamente roubou todos os olhares acionou o disparador congelando eternamente a família.

Nunca um sorriso, nunca nunca uma prosa. Assim foi em vida, longa vida, assim em redonda e lustrosa moldura ficariam para todo sempre em alguma parede descascada pelo tempo ou canastra empoeirada em algum canto de quarto.