MUDANDO DE PROFISSÃO
Ubirajara Varela
 
 

Estou pensando seriamente em mudar de profissão. Ainda não sei qual? Estou meio perdido, confesso. Aliás, perdido e meio. Na infância tinha certeza que queria ser bombeiro. Mas a certeza durou pouco. Vieram a adolescência, os hormônios, as incertezas e as crises existenciais e me perdi na porta da Universidade. Tentei Ciência da Computação, Biologia, Letras até que por fim fui parar na Comunicação Social, lugar para pessoas com perfil dinâmico, extrovertido, comunicativo, empreendedor, agregador, formador de opinião, completamente diferente do meu e da grande maioria de meus colegas. Mesmo assim, aos trancos e barrancos, fui até o fim.

Hoje, sou jornalista, formado em uma ótima universidade, aprovado com menção honrosa dos professores que me examinaram na monografia, mas que, como 90% dos profissionais da área, tenho de me submeter a salários e jornadas de trabalho vexatórios, se quiser me manter empregado. Aliás, volta e meia ouço amigo dizendo: "Rapaz, a abolição já acabou. Sai dessa. Abre uma Skol". E eu tenho que responder, literalmente rindo para não chorar, que a abolição valeu somente para alguns privilegiados, mas que a Skol até que dá pra abrir de vez em quando. E penso, cabisbaixo, que se esqueceram de abolir os jornalistas com certeza. Uma profissão a qual, de acordo com uma pesquisa divulgada pela Folha há algum tempo, está entre as três mais desprestigiadas no mundo ocidental, ao lado de lixeiro e advogado. No entanto, os patrões não têm um pingo de culpa de nos exigirem níveis altíssimos de leitura e informação, além de constante qualificação profissional. Sem falar que não temos contrato formalizado, todo mundo é free-lancer. Não pagam hora extra e estipulam plantões absurdos. Para piorar, não tem nem férias, quanto mais adicional de um terço.

É por essas e outras que quero mudar de profissão urgente. Mas tenho um grande problema para enfrentar. Não faço a mínima idéia do que eu quero. Tenho facilidade para fazer muita coisa, mas não conheço nenhuma em que me destaco dos demais, ou que - principalmente - vá me render alguma realização e satisfação pessoal e profissional.

Na expectativa de melhorar de vida e prosperar, quem sabe ficar rico, de vez em quando faço pesquisas na Internet para ver se já lançaram algum curso de formação para milionário, ou pós-graduação para bon vivant, quem sabe descobrir que já publicaram o manual secreto do ganhador do primeiro prêmio da mega-sena acumulada. Nunca achei nada disso! Confesso também que já tentei uma boa macumba, e não funcionou. Quantas noites já cheguei de mansinho, aos pés de Jesus Cristinho, sussurando em oração o meu pedido para encontrar o pote de ouro. Mas Jesus Cristinho nem me escutou. E o que eu quero é tão pouco. Eu quero ser rico, milionário, alcançar a independência financeira e viver de renda passiva. Simples assim. Já até comprei alguns livros que ensinam a enriquecer sem esforço, mesmo sabendo que tais publicações só ajudam os seus autores e editores a ficarem ricos. Pura ilusão.

Deixando o sonho de lado, posso dizer que ficaria bem satisfeito se eu descobrisse algo por que eu me apaixonasse profissionalmente, fosse um destaque e encontrasse a pedra filosofal profissional.

Na falta de perspectiva, entre o sonho do primeiro milhão e a descoberta da profissão do meu coração, eu arrisquei mandar o meu currículo para a Igreja Universal. Depois de abrir o portal da Arca, por acaso, e ver um anúncio ("Se você é dinâmico, gosta de internet e quer trabalhar conosco, mande o currículo"), resolvi experimentar. Vai que dá algum rock! Quer dizer, algum Gospel. Com dois cliques, mandei o arquivo. Se for contratado, posso ascender na carreira, talvez, até virar pastor. Eu ia ficar bonito na foto! Quer dizer, na tela. Ops, na fita! Sei lá! Se for contratado, eu avisarei, podem ficar tranqüilos.