PRA CASAR
Tieme Mise
 
 

Fui criada num sistema militar caseiro. Meu pai, coronel do exército brasileiro, reformado, mantinha as rédeas de sua casa e família com o mesmo rigor que dominava suas patrulhas, no campo de batalha, mas sem perder a ternura que, para mim, muitas vezes, se escondia sob a força de sua palavra. Morávamos nesse período numa pequena cidade do interior da Bahia.

Pensei ter conseguido driblar sua visão de condoreiro quando, aos 17 anos, aceitei o namoro com um coleguinha de turma que carregava meus livros a caminho da escola e o único contato entre nós havia ocorrido, quando, acidentalmente sua mão havia tocado a minha, na entrega de um sorvete comprado em plena praça.

Um belo dia, lá vinha eu despreocupada, com o garoto a segurar meus livros quando, de repente, meu pai surgiu na minha frente. Seu olhar era firme. Havia crescido pelo menos um metro aos meus olhos assustados.

- Moça, pra casa!-

Meus olhos se encheram de lágrima, de vergonha e temor, mas as contive. Dei um tchau apressado ao garoto que estava a olhar o desenrolar da cena, também amedrontado. Ao chegar em casa, meu pai chamou a minha mãe e disse:

- Sabia que esta mocinha está namorando?-

Virando-se para mim perguntou:

-Por que não me apresentou o rapaz?-

Eu, na minha inocência dos primeiros passos, tentando dizer que ainda estava conhecendo o rapaz, respondi:

- Mas, pai, não estou namorando pra casar.-

- E está namorando para o quê, então? Saiba que sei de todos os seus passos.-

Senti que fora vilipendiada nos meus direitos e nem titubeei:

-Quanto o Senhor paga para me seguirem?-

Saí da sala me sentindo diminuta. Foi quando o ouvi dizer a minha mãe:

-Neca, veja só essa menina! Converse com ela. Dois duros não levantam muro!-

Entrei no quarto já sorrindo. Ele havia me comparado a ELE! Foi um triunfo para mim que o admirava enormemente! Era o meu ídolo. Apesar da vergonha que passei, dormi feliz!