DE VOLTA AO INFERNO
Eduardo Prearo
 
 

Não existe resposta reconfortante no inferno.
- Joyce Rupp

Ainda percebo um grito no ar após minha partida, um grito de prazer. Sinto que sou o que se varre da casa. Hoje eu só estava precisando de um toque físico, de um carinho, alguma coisa assim, mas não consegui ninguém, e ainda disseram-me que sou meio que excluído. O meio é de minha autoria. Estou com frio, e os anos se passaram sem que eu visse algumas sementes germinarem; elas simplesmente secaram, talvez eu não as tenha regado. Estou com raiva de mim e creio que seja mesmo um doente, mormente porque nunca fiz nada de útil para a humanidade. Adler me disse que me cuido muito, mas acho que me cuido pouco. Não, até que me cuido apesar das privações que eu mesmo crio por não saber ser econômico ou então por ser um tanto ou quanto impulsivo. Incrível como eu ainda namoro um pulôver que vi na loja José Silva há exatamente vinte e seis anos. Aconselham a não se lamentar, mas lamento não estar trabalhando naquela época e mesmo hoje, agora. A frieza de certas pessoas que te usam e depois te jogam no chão para ser varrido ainda me entristece. Mas quem sou para me entristecer, afinal me acho retardado. Hoje obtive a certeza de que sou sozinho, de que ninguém iria me ajudar com alguma palavra de consolo. São Francisco de Assis já dizia que é melhor consolar do que ser consolado. Mas tudo continua a mesma coisa, e me vejo voltando aos vinte anos, carente, procurando alguma coisa. O cigarro já não me bota na fila para o visto da santidade. Ainda não me arrependi do que fiz nas últimas horas, mas com certeza haverá consequëncias. Estou com frio e sono e também com preguiça de me agasalhar. Precisava que alguém me agasalhasse, mas isso parece ser bichisse, eu sei. Não, eu nunca serei amado como quero. Nunca.Talvez eu seja volátil como todos os homens, mas meu tempo é diferente, entende? Eu disse a mim mesmo um basta e pensei na morte; mas não, não quero morrer doente, mas com saúde. Daqui a pouco estaremos todos mortos, e eu tentei coisas não muito benéficas; sim, seriam benéficas e como! Mas são coisas imorais. Sofro de paranóia, sim, eu sofro disso; mas também é triste de repente saber que ninguém me espiona, que estou mesmo abandonado a Deus. Se ao menos eu tivesse um por cento da paranormalidade de Carrie, a estranha! Mas não tenho, e como é duro (essa palavra, duro, é apavorante) ser desprezível. Adler me disse que sou vulnerável, e que não dei certo com ninguém absolutamente porque...bem, porque (menos, menos) tenho um qi baixo. Mas falo, tento falar, e não há suavidade no meu falar...as massas decoram bem as músicas estrangeiras, eu não, não gosto de música, não da que elas gostam, gosto pouco. Procuro o paradeiro de alguns amigos do passado, passado agora que se tornou distante, mas não me lembro do nome deles. Havia uma amiga, Susan Meo, não sei se era isso, ou Sunny Mel, que gostava de me ouvir tocar violão. E violão a essa altura do campeonato já não dá mais para comprar, não agora. Mas as músicas que eu compunha vez ou outra me vêem à mente, e tenho vergonha delas, tenho vergonha de fumar. Envergonho-me de pensar que as cantava e naturalmente se fossem comercializadas não fariam muito sucesso, creio que nenhum...aquelas baboseiras todas que escrevi, estas que escrevo, sem alegorias, sem nobreza, sem metáforas, sem leveza e sem cultura. Adler me levou para passear na semana passada; tadinho, está com oitenta anos, mas tem mais vitalidade do que eu. Já me disseram que pareço ter setenta, daí pra mais. Meus amigos, na sua maioria, sempre têm mais de setenta. Então, fui com Adler a um parque e ficamos sentados palrando sobre tolices. Ele vive a me contar fatos do seu passado, e mesmo sendo repetitivo, não me canso de ouvir suas histórias. Acho que entrei na terceira idade com quarenta, sim, entrei antes do tempo, mas não suportaria ficar jogando buraco nem por um segundo.Sei que se eu durar mais um pouco vou suportar coisas assim. Sinto muito é o que mais tenho ouvido no momento. É sinto muito daqui e dali, estou cheio, mas vou, sim, vou continuar ouvindo sinto muito. Será que sentem muito mesmo? Ontem joguei alguns cereais no lixo; não, não sobre mim, pateta, mas no lixo mesmo. Achei estranho que pequenos insetos com asas formaram-se dentro desses vidros de cereais. Quando abri um vidro, eles saíram voando, libertaram-se. LIBERTEM OS INSETOS ESTRANHOS. Embriaguei-me pela manhã, coisa que jamais fiz, e o que é pior, com pinga 51. Foi horrível, só de pensar já me dá calafrios. Fico observando esses jovens mais jovens do que eu, na companhia de Adler, e céus!, como sou invejoso. As pessoas lutam pra valer, e gabam-se o tempo inteiro de que trabalham vinte e cinco horas por dia, e é chato (eu vou ver o que é chato daqui a pouco) sentir-se como alguém bem pouco batalhador. Acho que isso tem a ver com sexo, com troca, essas coisas saudáveis; sim, isso de ser batalhador. Ou então com castidade, aquela coisa de enviar as energias para o cérebro, coisa que dizem que uso pouco. Adler me disse que sabe sobre minha outras vidas e eu lhe falei que não acredito em reencarnação. Mas é realmente divertido quando ele diz que fui Cleópatra. Segundo ele, ela era castíssima e jamais teve um contato mais íntimo com Marco Antonio; enfim, fora um amor platônico. Eles trocavam missivas e o amor deles se resumia nisso, trocar missivas. Cleópatra era altamente intelectualizada, mas acabou se matando porque teria de ficar pobre, teria de deixar seu trono mais dia menos dia por causa das pressões dos judeus, que sabiam da existência da sua irmã gêmea, e ameaçavam contar ao povo que a verdadeira rainha por direito, a gêmea, estava jogada às traças em uma ilha de Portugal. Se fui algo em uma outra existência tenho quase certeza de que fui um pássaro, que precisava tanto alcançar o azul que acabou se achando no espaço sideral, entre a lua e marte, entre a cruz e a calderinha. Sou patamaz, agora sei, justamente porque as orações parece darem efeito contrário. Sabe aquele patamaz labrego que não tem nada de apurado? Preciso de um café ou então voltar a dormir. Hoje é feriado, dia do aniversário da cidade. Devia ter dado certo aqui, afinal a cidade é do signo de aquário e libra e aquário, segundo a astrologia, combinam-se. Mas meu lado negro está nesta cidade, que não chega a me viciar; não existe simplesmente uma outra cidade neste país onde haja melhores condições para se viver, para se arrumar um emprego decente, para se poder estudar. De qualquer forma, não tenho um emprego decente e também não estudo. Sou burrinho pra burro; porque se não fosse, ah, faria uma usp da vida, não pagaria etc e tal. Sei que minudenciam minha vida de baladeiro porque é uma vida de mentira. Adler foi servir de testemunha no caso dos Petersons, e disse que várias promoters tem centenas de fotos do casal entrando em festas de penetra. Claro que há coisas mais sensatas que se fazer por aqui, neste deserto aquariano, como malhar em uma academia, por exemplo. Um corpo sarado é sempre agradável, tanto para ser cantado quanto para obter mais prazer e maior auto-estima. Mas Adler, querido Adler, caiu a muralha que demorei anos construindo na escuridão; ela cai raramente e então volto a construí-la. Não senti nenhuma luz resplandecer após esta recente queda, e apelei à nudez, à magia negra. Não, não pertenço a nenhuma ordem, mas simpatizo um pouco com a Ordem da Jarreteira. Não sei exatamente o porquê, mas por vezes me transporto para aquela festa da corte inglesa quando o rei Eduardo III, dançando com Joan, a condessa de Salisbury, percebeu que a jarreteira dela caira (não só ele, mas todos os presentes), e sem saber o que fazer no momento, ele... amarrou a fita azul abaixo do próprio joelho. Se continuaram a dançar? Não sei, e MALDITO SEJA O QUE PENSAR MAL! Sim, devo ser um maldito, uma pessoa maldita, e pensei mal ou quase pensei mal, pois sou lacaio. Adler me prometeu que me levará à Europa daqui uns dez anos, e tem poupado para tal. Mas disse-lhe que não vou querer ir, que prefiro a América, que não prefiro nada, que minha doença talvez esteja evoluindo e que não sei como estarei, e onde, daqui a dez anos. Ele ficou triste pois tem poupado tanto para o evento! Deu-me um anel de rubi e fez questão de pô-lo no seu-vizinho. E me elogiou quando falou em alemão que sou kleinnütig. Deve ser um elogiu, obviamente, algo do tipo pessoa pura. Mas não me acho puro, não tenho dinheiro e só Adler como amigo. Há a ex-esposa e meu filho, mas raramente os vejo. Quando Norma traz a criança, que se chama Vincent, levo-o até o vovô Adler. Vincent é uma criança superquieta, e Norma o mima demais. Amiúde dou uns tapas nele, pois sei por experiência própria, que se a criança não tomar uns tapas ficará assim como eu. Lembro-me de ter feito analise freudiana há uns vinte anos e que a psicanalista chamou minha mãe para perguntar-lhe que espécie de educação ela havia me dado, afinal eu me portava como um mimado e isso significava falta de tapas, de repreensões. Mas fui uma criança doente, e não fosse o acidente talvez me tornasse um atleta de tanto que corria pelos campos do ABC. Entrou uma abelha aqui neste instante e ela está andando verticalmente pelo vidro da janela. Quer sair, voltar para sua colméia. Mas por que entrou aqui sem ser chamada eu não sei. Fui um matador de abelhas, pois pensava que dentro delas havia méis. Vincent não me chama de pai, eu o proibi. Agora a abelha está bem próxima da imagem de Santa Gertrudes. A abelha se foi, e me lembrei do champanhe. Me lembrei do champanhe francês do Natal. Que data estressante para mim! Adler me ligou dizendo frohe wiehnacht und ein gutes neues jahr! Amém. Tenho orgulho de Vincent que com apenas quatro anos já faz sonetos. Coloco-o ou não o coloco neste texto, feito especialmente para o site anjos de prata?

Anseio perder tudo de uma vez,
Pra que alguém corra atrás de mim gritando,
Que me deseja, mas não só pro mês,
Da eternidade me beijar a mando.

Eu vou seguir as borboletas rosas,
Vou praguejar contra você na tarde,
No cemitério de modelo posas,
E uma frieza nos seus olhos arde.

Quanto mais te amo mais te perco, morro,
E tudo em mim defeituoso explode,
Nessa saudade sem nenhum socorro.

Perdi meus brincos num albergue sujo,
E na memória de ninguém fiquei,
Da fealdade sei que não mais fujo.

Tenho andado para trás, Adler. Deixei que o padre pusesse as mãos em minha cabeça, sabe né?, para benzer, e você sabe o que significa isso, não sabe? Estou sem grana para partir para o cais; me pareceu...bem, me pareceu que...ai, me esqueci, me esqueci o que ia dizer, me esqueci o que me pareceu. Entrei na internet para ler o último texto de Dino Palaz e confesso que ele me decepcionou um pouco. Não estabeleci metas desde cedo, e creio que essa talvez seja a preocupação de todos os pais, que os filhos estabeleçam metas desde cedo, que os filhos atentem aos seus conselhos. Filho, atente ao conselho do pai! Pressinto que alguma coisa estranha irá acontecer, como perder o que tenho, o pouco que tenho para outra pessoa, outra pessoa que irá se apossar daquilo que considero minhas coisas. Tudo é meio transitório, eu sei, mas quero crer que eu esteja com Deus, que ele seja meu Pastor, meu maior amigo e confidente.Mas ajo errado. Ajo deveras errado, e procuro alguém. Foi aquela foto, aquela foto talvez a culpada de tudo. Sim, porque me evoquei do passado, e de repente voltei ao passado, fazendo as coisaas que fazia no passado. Merda, que desespero este feriado! Precisava ler mais, mas estou a divagar, sem norte, querendo que alguém me toque, me coma (canibalmente), me devore. Não tenho a quem recorrer a não ser para Deus, e uma das coisas que mais peço a ele é que me livre da miséria, essa miséria dividida por todos os miseráveis. Uma vez eu entrei no bom prato do Brás e achei tudo muito normal, mas aí surgiu um homem e apontou para outro, dizendo que esse outro não tinha cara de miserável, de pobre, que estava ali para economizar. A miséria tem disso, das pessoas falarem coisas para se sentirem mais miseráveis ainda. Não me queixo, não quero me queixar; só lamento o fato de não ser desejado, de ter de ser como todo mundo, de não ser especial. Como queria namorar alguém, porém estou dentro do tufão anual de invocação da pobreza, quando não existe biscate antes do carnaval, quando os neguinhos te regulam um cigarro.Houve até a pouco tempo uma pessoa que foi minha amante, mas eu a enganei, sim, eu a enganei dizendo que era um escritor, que tinha livros publicados. Não, não tenho: sou como Fred de Breakfast at Tiffany's, mas em minha vida não há nenhuma Miss Holiday Golightly, e também não vivo em New York. Vivo aqui, em São Paulo, que hoje completa quatrocentos e cinquenta e quatro anos. E depois que essa pessoa descobriu que eu não era um escritor, algo de renome pelo menos, passou-me a tratar como um ser de hierarquia inferior a dela, o que talvez seja verdade. Mas pouco me importa agora. O que preciso é de dinheiro. Os empregadores estrangeiros não vêm para o Brasil para explorar as massas, isso é mentira. Creio que sejam as pessoas mais compreensivas. Não, nunca fui para os Estados Unidos da América, primeiro por causa do dinheiro e segundo por causa da fila. Mas, de qualquer forma, acho que seria visto como um terrorista, não conseguindo visto de forma alguma, nem sendo amigo do próprio presidente de lá(não devia ter dito isto, é perigoso, afinal, têm as hierarquias, não têm?) Não sei por que escrevo agora, não deveria escrever, estar escrevendo, pois nem sei se isso será publicado. Merda! A chuva cai, a necessidade de sexo sobeja, o ano mal começou. Marte, este é meu ano. Ou morro, ou explodo. Adler me disse que preciso ter humildade, e agarrar alguém em um lugar escurinho. O problema é o seguinte: alguém diz que gosta de mim, mas depois faço umas coisas, que duvido que ela volte a gostar. É sempre assim. Quero morar na Casa Branca, arrumar um emprego lá, nem que seja de faxineiro, o que já estaria pra lá de bom. Não, desconheço os faxineiros da Casa Branca, mas devem ser pessoas bem legais, ou então más. Vou confessar: sentia-me Sandra Bullock na companhia dessa pessoa recente, que foi minha amante. Ela também é leonina, como a pessoa amante, que agora deve estar pra lá de Shangri-lá. Não sou especial, o que é uma pena, pena? I could kill myself, but now iam, iam well. Iam drinking wine. I don't want to think in cirrhosis nor in bucal cancer. I only drink in the dark. Adler said me that my wishes are things of child and that i should be a chaste man. I would like to run completely nude, but it would be a crime. Sorry. What ashamed iam! Atente para o conselho do pai! Por que nasci no Brasil, por que falo português se nem sei falá-lo corretamente. Estudei ali no Vinte de agosto, em São Bernardo do Campo. Aos doze tinha uma aparência afeminada, ninguém sabia se eu era homem ou mulher. Hoje pouco me lixo se pareço homem ou mulher, estou farto disso. Mas você vê, Adler, como eu escreveria melhor se tivesse estudado em uma escola particular? Daqui a pouco estarei no caixão e mal posso esperar para saber o que acontece, é tudo muito misterioso. Dizem que quando a gente está...desculpe, mas creio que o computador captou meu pensamento. Isso é ridículo! São tantos errinhos de ortografia! Creio que muita gente vá rir no meu velório, pois eu fazia isso quando era criança, cronologicamente. Não conseguia conter o riso frente àquelas pessoas em ataúdes. Todos os amantes em um velório, seria uma reunião fantástica! Ai, quero ir para o mar, caralho! Quando a gente é jovem a gente ouve muita mulher gemendo de prazer. Hoje já não ouço, mas vou ouvir, tenho certeza. BASTARD!!! Adler me deu um computador novo. Atente para o conselho do pai, pois leio Eduardo Prearo, que é de ar e tem duas vezes ar no nome, tem duas vezes vênus no horóscopo. AR, AR, AR! Atente para o conselho do pai, diz o nordestino, o gaúcho, ou sei lá o quê. Hoje não estou sério, infelizmente. Queria e quero escrever textos sérios, que digam alguma coisa. Mas sou um inútil. Vou sair por aí de madrugada e beber mais uma taça de vinho, após esta garrafa inteira. Não há mais nenhuma possibilidade de eu ser um artista hollywoodiano. Querer ser artista é crime. Quanto papo furado! Sandra Bullock jamais me beijaria na boca. O que aconteceu hoje foi o seguinte: comprei um pepino enorme e não aguentei quando o empacotador o embrulhou separadamente. Aumente seu vocabulário, mas será que rir é o melhor remédio? Sempre serei nascidiço do Brasil, e Brasil , quando se pensa em Brasil, pensa-se em negro, em negritude, coisa que adoro! Pensa-se em selva, na selva que parece nem mais existir, pois acabaram com ela todinha! Ela está quase que todinha nuazinha.Aí eu canto: I will always be hoping, hoping; you will always be holding, holding my heart in your hand, i will understand! O que será de nossas futuras gerações com esse aquecimento global? Bom, não estarei vivo para ver, não é? Estou na escuridão, um lucernário a procura de luz. Peço a Lúcifer, oh Lúcifer, onde está você? Ninguém me ouve, nem mesmo Lúcifer. Ninguém me dá o que quero, que afinal é vida boa. O que ouço do povo é coisa do tipo eu trabalho, eu trabalho, e o que tenho a ver com isso? Caso ouvisse eu não trabalho, o que teria a ver com isso também? Talvez oferecesse a essa pessoa casa, comida e roupa lavada, como me disse uma amiga que oferecem os padres aos seus meninos. Mas não sou mais menino! E aí, então, ela (a pessoa vagabunda no bom sentido) começando a trabalhar, ficaria tudo numa nice, numa boa, numa maravilhosa vida de entretenimento contínuo. Festas e mais festas sem parar, incessamentemente. Ai, como tenho pouco dessa juventude que está por aí, entrando em bagageiros e sumindo pelas estradas afora, aos berros de felicidade, pois são os hormônios berrando e berrando e berrando num sem parar alucinante, talvez eu surtasse. Vou atrás agora dessa pessoa amante? Não, não vou porque ela toma droga, e eu esta maldita droga legal, que não tomo, mas fumo, na medida do possível e do dinheiro. Deus me ajude a esquecer este texto, pois escrevo-o bêbado e isso talvez seja pecado. Amanhã é sábado e não sou infelizmente o John Travolta em Saturday night fevers. Ainda estou apaixonado? Talvez não, mas aquela vulnerabilidade é que ferrou tudo. A pessoa pelo qual pensei ter me apaixonado trabalha vinte e cinco horas por dia e por isso o seu crack é algo perdoado (com certeza, hoje, já deve estar sem vícios). Nome sujo, antecedentes ainda não tenho, nunca serei abdusido, não vou mais viajar pro interior, nem pro exterior. Até já! É terrível ser um labrosta. Prasanta Flores enviou-me um cartão, está em Tóquio. Nem o som de Chorando se Foi, do Kaoma, acalmou-me.Mas não sou pessoa nervosa. A vida é mesmo dura pra quem é mole e nada gostoso. Amanhã é sábado e já sei até como vou me sentir: vou assistir à tv, namorar um livro para ler, escrever neste computador, dormir e dormir com os remédios, sentir-me um lixo, chorar um pouco, arrepender-me de ter nascido, pensar em ir até ali, correr, tentar deixar de ser sedentário, sair...DEUS! Que mal exemplo daria se lhe dissesse, Adler, que não vou mais limpar esta casa. Amanhã é sábado, e mesmo depois de tudo o que aprendi, do pouco talvez que sofri, levantarei e direi: de volta ao inferno!, o que de certa forma é uma heresia para os que dão lições de vida maravilhosas. Mas virá algum castigo, eu sei, pois para esses, deve-se agradecer e não falar coisa como de volta ao inferno, agradecer à vida apesar de se viver nesta cidade. Adler diria: você quer ir para um albergue é? Eu diria: a população desconhecida decide mais do que Deus? Sou mesmo, então, um vagabundo.