NHENHENHEN... | ||
Doca
Ramos Melo | ||
Estou impressionadíssima! Bom, eu me impressiono com quase tudo neste mundo de Deus, portanto pode ser que aquilo que me deixa de queixo caído não passe de reles arroz com feijão para o resto da humanidade, em todo caso... Devo ter algum defeito de fabricação. Digo, tenho vários, este é apenas mais um deles. Se eu listar, por exemplo, algumas coisas que me dão depressão e tristeza e que, paralelamente, são endeusadas por milhões de pessoas... Chega, não quero chocar o povo. Só vou dar um exemplinho básico, para elucidar melhor as minhas loucuras... Vejo aquela porção de moças a dançar quase peladas na tv, sacolejando tudo o que têm direito, e sei que são amadas, desejadas, invejadas, famosas. Agora, como é que então eu sinto uma pena profunda das coitadinhas, fico triste demais diante daquilo, chego a sentir uma espécie de constrangimento, parece que sou a culpada de alguma forma por tamanho infortúnio, oh, Senhor, como posso?! Sei lá, mas assim é. Chega de conversa fiada. Estou sabendo que, no Japão, cientistas comemoram a criação de robôs com atitudes humanas, que falam, reconhecem pessoas e atos, chutam bola, entre outras coisas. Na recepção do laboratório de ciências japonês, surpresa: a recepcionista-robô!!! Que maravilha... (Pfui). No Japão não cabe mais gente, todo mundo sabe, e para a sorte deles as moças lá não são cariocas, fossem e o problema da terra do sol nascente seria agravado porque carioca tem bunda avantajada e arrebitada, carioca tem bundão. Ou seja, onde duas cariocas se enfileiram, cabem com folga quatro ou cinco japonesas que, para felicidade da nação oriental, não possuem bunda. Nem peito. Então essa realidade, como dizem os jornalistas brasileiros mais badalados do momento, 'otimiza' (Jesus, Maria, José, eu me suicido!) a divisão do espaço no oriente. Bom... E eles lá, criando robôs, me digam, p'ra quê?! Vai ver é para empilhar dentro de caixinhas de fósforos depois de desmontados. Assim, ocuparão menos espaço que as pessoas, farão o serviço delas e ainda não amolarão boi com tanta parafernália para se tornar diferentes, porque se há uma coisa que os japoneses andam fazendo por lá é dar tratos à bola para modificar o visual meio padronizado deles. Perdão, mas não assisto filme japonês por conta de não distinguir Hiroshi de Hirashi, eu sou cheia de problemas, ai, de mim e ainda preciso tomar cuidado com a questão do preconceito, de repente Hiroshi fica sabendo disso e me aplica um golpe de karatê, piedade! Tempos atrás, fui ao casamento da Sushi com o Sashimi, me atrapalhei com as famílias do noivo e da noiva, não conseguia distinguir ninguém até que fiz um comentário qualquer com uma das mães e para agradar, elogiei a noiva. "Sou mãe do noivo", disse a senhora me olhando com a cara de 'eu, heim'. Ah, sim, disse eu, o noivo também é o máximo, se parece muito com a senhora e eeer.... Outra: o governo de V. Exa. Metalurgíssima está-nos oferecendo uma novidade novidadíssima, a televisão digital, desde que a gente tire aí toda a economia de dez anos da família para comprar o conversor que vai nos dar o direito de conhecer, nas entranhas, as rugas e o botox de Ana Maria Braga, Suzana Vieira e companhia - me digam vocês aí, que vantagem Maria leva nisso? Maria, nenhuma. Mas as mocinhas em busca do estrelato devem estar dando pulos de alegria, sem prestar atenção ao fato de que o vento que bate lá, uma hora bate cá também, ora, ora, ora. No momento, salve-se quem puder, devem pensar as espertas. Não é só isso, amores. A televisão digital nova vai ser interativa!!! Já estou vendo a quadradona dar ordens aqui em casa, se metendo na conversa, como é que é, estou farta deste canal, detesto o Jô Soares, pode me sintonizar na Ana Paula Padrão, fazendo o favor, ô pobreza, nem canal pago vocês têm, Deus me ajude, vai baixar o volume, minha senhora...? Ai, Santana do Livramento! Vou ficar com minha velha tv caladinha aqui, me bastam os programas indecentes que ela oferece, conversar comigo, nem pensar, tô fora. Imagino minha irmã Isabel, que desancou com a tv colorida quando ela surgiu, meteu o pau nas cores, chamou de porcaria p'ra baixo, o que deve estar falando dessa versão interativa... Se bem que, com ela, televisão nenhuma bota a cara, Isabelita é fogo! Eu já tenho problemas demais com outras máquinas modernas, meu celular, por exemplo, não me obedece de jeito nenhum além de dar uns chiliques, umas tremedeiras, umas zoadas, antes de tocar, levo cada susto! E isso, perto do meu microondas... O microondas chegou aqui como símbolo da libertação feminina do antigo fogão. A gás, claro, a gás, porque o Senhor já tinha nos aliviado de encostar o umbigo no fogão à lenha, eu acho até que as mulheres antigas eram mais fortes porque tiveram a têmpera esquentada e modelada ali, naquelas labaredas. Depois, o gás nos salvou, mas por outro lado, nos tornou assim, meio molengas, fracotes... Então. Meu microondas é sofisticadíssimo. Prometeu dourar e deixar crocante o pão, e eu paguei p'ra ver. Resultado: esquenta o pão, mas o resto, neca de pitibiriba, só figuração. Digo, ou se come o pão assim que sai de lá ou se pode usá-lo como artefato de guerra, porque vira pedra purinha da silva. Na verdade verdadeira, deveras, ele é um ótimo esquentador de leite e pratos prontos. Máquinas são como políticos, prometem de tudo. Recentemente, além de apitar com insistência quando acaba o serviço, meu microondas decidiu enviar uma mensagem e lá, no visor, pode-se ler agora a palavra 'fim'. Eu finjo que não dou muita bola, deixa p'ra lá. Até porque a geladeira também geme quando a gente esquece a porta dela aberta, eu acho que os dois estão tentando namorar... | ||