O BÊBADO
Thaís Sophie
 
 

A cidade vazia, uma madrugada comum, a garrafa na mão, um coração partido dentro do peito: ela se foi.

-Talvez tenha sido meu jeito egoísta de ser, mas sou homem oras, dou extrema importância a meu umbigo!-gritou a um cão sarnento que passava por ali- Sou homem!

A vizinhança já notava a presença do bêbado, pensavam em chamar a policia.

-Até quando devo continuar -apoiou em um muro- esta caminhada rumo ao nada- as palavras tinham um tom pastoso- eu não sei de onde vim - respirou fundo- e nem pra onde vou...

-Cala boca bêbado dos infernos!

-Por que me calar? Tenho boca é pra gritar aos quatro cantos a loucura da vida! -as palavras iam se emendando, na lentidão do pensamento regado a álcool.

-Quero gritar meu amor! Meu amor perdido, meu amor bandido, minhas donzela de contos, minha colombina inalcançável!
Um vaso de flores voou em sua direção acertando em cheio a cabeça, do corte um filete de sangue, um galo cantante na testa do pobre coitado que sofria.

-Agora sangro! Sangro como um animal, atingido pela raiva mesquinha de quem não ama como eu amo! E sofro, e sofro...

A policia chegou, ele foi contido com dificuldade, antes de ir embora se ouviu sua ultima frase:

-Oh minha amada, estas aí estampadas lá no alto em um cartaz, mas vou te amar, mesmo me mantendo - deu uma engolida alta, molhou os lábios ressecados- aqui embaixo por temer com pavor a altura....