EXÍLIO
Silvia Pires
 
 

Com o passar dos anos, aprendi a apreciar os pequenos detalhes das coisas, principalmente a minha volta. Todas as tardes me sento na varanda de casa e olho tudo, o tempo, os pequenos animais que habitam o vasto quintal, minhas plantas e até os insetos, que algumas vezes são indesejados, mas que também tem direito a vida.

Hoje tenho todo o tempo do mundo para isso, já desperdicei muitas tardes em salas abafadas e deprimentes, onde executava com eficiência e determinação, minhas atribuições.

Fui um competente advogado dedicado a causas civis, principalmente aos conturbados divórcios, que me traziam bons rendimentos e garantiram meu futuro estável e tranqüilo. Mas infelizmente, fui tão voltado ao meu trabalho que deixei de prestar atenção ao meu próprio casamento, o qual foi se deteriorando de acordo com a quantidade de causas ganhas.

E então aqui estou eu, sozinho com minha imensa casa, tendo mais cômodos de que preciso, uma piscina maior que minhas necessidades e com um maravilhoso quintal que me proporciona a mais bela visão que já tive. Uma casa que deveria estar cheia de crianças, filhos de meus filhos, pois a esta altura eu seria avô, um lar que poderia ter um toque feminino, que nas tardes de Domingo cheirasse a bolo assando no forno e um falatório vindo da grande e bem equipada cozinha.

Entretanto, faltou o ingrediente principal para que a receita desse certo. Minha esposa me deixou antes de termos nossos filhos, ou melhor, eu deixei que ela se fosse, estive muito ocupado.

Não procuro mais as desculpas e explicações para meus atos, sou réu confesso. Agora recebo minha punição calado, literalmente, pois não tenho com quem falar.

Minha vida é assim, portanto me acostumei e aceitei a solidão como companheira e é com ela que aprecio a beleza que se estende a minha frente, onde fico deslumbrado com a delicadeza e feminilidade do pessegueiro, aspiro o delicado perfume que exala de suas flores, vejo os pequenos frutos nascerem e crescerem e de alguma forma achei que deveria recompensá-lo. Assim, dei-lhe um nome, chamo-o de "Bela Dama", pois é assim que o vejo, quando os fracos raios de sol do final da tarde o iluminam e a leve brisa balança seus galhos, fazendo-os dançar suavemente como uma moça em seu vestido esvoaçante.

E então sonho com essa moça, minha bela dama que me acompanha nestes dias vazios, dando-me uma pequena paz de espírito.