É
tão fria a cova e tão escuro o horto onde depositam meu corpo
doente! _ Como a cova é fria se o corpo é morto? A partir
de agora só a alma sente... Ah!
Esta cama rude onde estou deitado e este quarto escuro e tão bem fechado! Tento
levantar, mas estou tão cansado... Que rumor é esse ali no quarto
ao lado? Há
um jardim bem perto: sinto o odor das flores. Quero levantar, mas estou tão
cansado... Estou tão cansado mas não sinto dores. E o rumor
aumenta ali no quarto ao lado. _
Desçam o caixão! _ diz alguém lá fora. Quem morreu
enquanto estive dormindo? Bem perto da porta ouço alguém que
chora, lamentando a sorte de quem vai partindo. Quero
levantar, faço força tamanha mas tenho as mãos inertes
e o corpo duro. Agora o padre reza numa língua estranha, enquanto
fico preso neste quarto escuro. Está
caindo terra sobre o telhado. Parece que o mundo está desabando... Falta-me
o ar neste quarto fechado e lá fora há uma multidão chorando. Sinto
um tremor leve, um breve arrepio... Já quase nada mais estou sentindo. Por
que não me tiram deste quarto frio? Alguém morreu enquanto estive
dormindo. É
tão fria a cova e tão escuro o horto onde depositam meu corpo
doente! _ Como a cova é fria se o corpo é morto? A partir
de agora só a alma sente... Poesia
classificada em 2º lugar no Prêmio Cataratas 2006, da Fundação
Cultural de Foz do Iguaçu e menção honrosa no Prêmio
Cidadão de Poesia 2006, de Limeira - SP |