MEDO DA MORTE
Juliana Calonico Circhia de Souza
 
 

Minha filha tem quatro anos e anda curiosa a respeito da morte. Outro dia, achei caído e morto no quintal, um passarinho. Pensei em jogar antes que ela visse, mas tarde foi demais. A pequena me cercou, viu o pobrezinho gelado com as patinhas duras e esticadas. Antes de poder dizer algo, já com lágrimas em seus olhinhos decidiu que o colocaríamos em uma caixinha e o deixaríamos no lixo mesmo. Respirei fundo aliviada, e aí veio a bomba.

- Mãe, por que todas as coisas têm que morrer? E quando morre a gente e as "coisas" vão para onde?

- Bem, -comecei aos tropeços- olha,a gente nasce vai crescendo e ficando diferente, né? Cada vez que o tempo vai passando, vamos ficando mais velhinhos e sempre mudando até ficarmos bem velhos como a Bisa (minha avó de noventa e sete anos). Nossas forças vão se acabando e Deus nos chama para morar lá no céu. É isso.

Dei a conversa por encerrada e tratei de me safar para outro papo.]

À tarde,eu deitada na rede ela vem até mim e cochicha em meu ouvido:

- Mama, tudo bem se você morrer. Mas leva o seu celular pra falar comigo, tá?