RERIUS, A VELHA TABA ONDE NASCI
João Rodrigues
 
 

Uma igreja, uma pracinha e um coreto: assim é a minha cidade. Nada mais do que isso. Pequena e simples assim, como este conto. Mas, neste mundo, não há nada mais belo do que ela. Em cada esquina um sorriso, em cada bar um aperto de mão, em cada lar um amigo de braços abertos. Não há semáforos, shoppings nem metrô. Todos sabem que no cruzamento da Manuel Serrano com a Daniel Mota, às seis e meia da manhã, passará o velho fusquinha 72 de seu Nicolau levando seus netos, Gabriel e Lucas, para a escola Francisco Castro; Na feira livre, ao lado da linha do trem, encontra-se de tudo, é lá que as pessoas fazem as compras da semana. Na hora de comprar os presentes de Natal, é só ir à Boutique da Raimunda, comprar e pagar em três vezes sem juros; lá o cliente chega de bicicleta e a encosta na calçada ao lado, ninguém mexe. Mas também pode ir a pé. Se quiser, na volta, pode assistir a uma missa celebrada pelo padre Romão e depois ouvir um de seus conselhos que ele distribui sem cobrar nada. Depois disso, bem, se já for mais ou menos meio-dia, é melhor ir pra casa, pois a hora da sesta vai de meio-dia às três da tarde e não haverá ninguém nas ruas com quem se conversar nesse período. No fim do dia não se pode deixar de ouvir as belas histórias de Seu Zé Filinto, velhinho paciente e contador de muitos "causos", conhecido em toda a cidade, ou melhor, na cidade, já que "em toda a cidade" dá a impressão de que minha cidade é maior do que realmente é. Na roda de conversa pode-se encontrar o padre, o prefeito, o delegado, o professor Paulinho, o Nêgo Muçambê, o velho Chico Mufumbo, vaqueiro destemido e antigo campeão de vaquejadas, moças e rapazes. E à noite o "point" é a pracinha ao lado da igreja, mas nada de exagerar nos comportamentos, pois as autoridades locais estão de olho nos mais "animadinhos".

Minha cidade é tão simples que pude descrevê-la em um só parágrafo; o segundo foi apenas pra dizer o quanto amo Rerius, a velha taba onde nasci.