CANÇÃO PARA BENAZIR BHUTTO
Gildo Staquicini Jr.
 
 

do outro lado deste mundo
modernamente linda uma mulher
irmã também uma paquistã
está morta e nada posso fazer
do mesmo lado deste mundo
modernamente linda uma mulher
sem tiros bomba uma palavra
matando-me nada posso fazer
ó minha linda e morta paquistã
será que erramos tanto em nossos sonhos
miramos ambos tão precioso tempo
com imerecedora gente?
Adeus, irmã...

perdoa-me por no mesmo dia
fazer coisa única meu teu martírio
porém estavam já errados
aqueles nossos belos dia-a-dias
devia ter sido nosso o tempo
não dessa gente que nos deu em troca
paixão em forma duma bomba
fazendo-nos em ínfimos pedaços
ó minha linda e morta paquistã
será que em nossos tempos só miramos
e erramos ambos tão preciosos sonhos
com imerecedora gente?
Adeus, irmã...

Futuro bela paquistã
mais que seiscentos virgens belos
milhões de homens verdadeiros
sem ranços beiços barbas bigodes
mostrando-te o muito bom tempo
sem atrasos sem pêlos bom companheiro
sem panças a mirra sem rancores
em paz incenso (espero que gostes)
ó minha linda e morta paquistã
nestes banais contrapontos mundiais
gastamos cotidiano demos sonho
prá imerecedora gente?
Adeus, irmã...

viveste os piores do homem
tolo mundo todo tolo a girar
as ingratas me conheceram
todo tempo infinito a passar
ofertamos o melhor de nós
tantas histórias tristes prá contar
só dois grandes tolos dirão
com muita razão que fiquem a ladrar
ó minha linda e morta paquistã
no inferno do cotidiano mundial
por que pequenos atos tão grandes gestos
com imerecedora gente?
Adeus, irmã...

nas ruas no calor do verão
você no seu belo jeito eu do meu
nuvens borbulham fermentam
elevam estes constantes dissabores
daquelas coisas que se sente
intolerados este mundo gira
nos gira para longe longe
bem insentido bem indiferente
ó minha linda e morta paquistã
dia quente más notícias puxa o véu
fecha o ciclo mostra os olhos descansa
em merecedora gente
Adeus, irmã...

talvez no futuro os sagazes
saibam muito mais coisas que nós
será que também notarão
o quanto o horizonte treme ao calor
imperfeitos matemos todos
então primeiro eu sempre eu primeiro
matemos matar é melhor
que nos entender e deixar de matar
ó minha linda e morta paquistã
perfeita não foi vão falar de ti
contínua infortuna e sem pudor
a imerecedora gente
Adeus, irmã,

Sim, o horizonte treme ao calor...
(como foi quente este dia...)
desconfio que amanhã será pior...
em luto pelo bruto fruto do homem...
adeus.

(è possível que, no futuro, descubram que você era muito mais venal, corrupta e safada do que jamais poderíamos imaginar, mas, então, já estará muito morta - mortinha da silva, aliás; mas eu, se ainda estiver vivo, serei alvo das mais candentes críticas, pois - além deste possível erro de avaliação de caráter - andei cometendo outros pecadilhos éticos e econômico-financeiros aqui e acolá; mas, talvez eu tenha sorte e esteja bem morto antes que isso aconteça; de qualquer forma, espero que o final seja rápido, pois, afinal de contas, isto é só um poema; que tanto mal - ou bem - isto poderia causar para que eu seja alvo das mais irascíveis e vigorosas críticas dos mais jovens, destemidos - e profundos conhecedores do humano - novos senhores da verdade do mundo?)

(27.12.07)