A
ENTIDADE | ||
Dam
Nascimento | ||
Caia
a noite e mais uma vez ela aparecia ali, incisa, às vezes sutil como quem
vigia e pragueja a vida alheia; às vezes cheia de atitude, provocando o
mal, sugando a energia do ambiente. De onde viria aquela alma? Não se sabe,
mas, estava presa ali naquele vilarejo, tentando aceitar a transição
,tentando entender que a muito já estava morta. Todos tinham medo de assombrosos
fatos, mas, Thiago a notou. Maldito o dia em que ela percebeu. Sem que soubesse
a atraiu para perto de si e seus dias passaram a ser um inferno. Nas semanas que
se seguiram começou a ficar apático e sem forças, andava
torto como se carregasse o mundo nas costas. Rompia a noite calma e enquanto todos
dormiam, ela sussurrava no pé do ouvido de Thiago. Em meio a uma depressão
sem aparentes motivos ele sucumbia, ele se entregava ao desejo mortal de atentar
contra a vida e ela o impulsionava. Ela estava perdida e achava que ele a ajudaria
a se encontrar. Com a mente desequilibrada deu o passo de loucura e tomou todos
os remédios que encontrou pela frente. A entidade sorriu e lhe deu o beijo
da morte. Durante a passagem descobriu que seu nome era Ângela e que morreu
de uma forma brutal, por isso estava daquele jeito, errante, naquele vilarejo.
O local da morte precisava ser benzido, ela precisava de reza. Ao longo dos últimos
25 anos andou matando todo animal ou planta que por ali se instalasse e agora
ele sabia de tudo; mas, o que poderia fazer? Acabara de cometer suicídio
medicamentoso e certamente teria de pagar severamente por seus atos. Com lágrimas
nos olhos perdoou e entendeu a entidade; estava pronto para cair na luz ou na
escuridão e fechou os olhos. De repente luzes, muitas luzes, estava no
centro cirúrgico. Os médicos conseguiram retirar os remédios
de seu estômago antes que tivesse efeitos efetivos. Em um mergulho agressivo
a alma pulou sobre o corpo e ele acordou para a sua segunda chance ofegante. As
lágrimas caiam e ele pasmo já não distinguia realidade de
sonho e por mais uma vez viu a entidade. Sabia o que fazer e tentou fazer o que
era certo. Correntes religiosas rezaram em retiro no local , ela encontrara a
luz. Como em um milagre o campo começou a reviver e a nascer flores. Um cântico parecia vir do além e mais uma vez a entidade, enfim, compreendida, rumava a caminho da luz. Não mais cadavérica, mas, sim linda como fora um dia. O pesadelo de Thiago acabara, enfim, dormiria em paz, porém as portas de contato estavam abertas. No alto da madrugada volta para casa para descansar e ao fechar os olhos, um choro de criança. Não tinha filhos, o que seria aquilo? Olhou para os lados e viu um carrinho atravessando as paredes. Recapitulando, ele pensava em dormir em paz. Nunca duvide, nunca provoque e reze antes de dormir. Quando as portas se abrem, tudo pode acontecer. | ||