Girou
o volante à esquerda e freou no espaço de retorno para aguardar
o sinal abrir, enquanto mantinha o pé no freio e a atenção
contínua ao semáforo e à pista defronte. Passaram-se aproximadamente
dois minutos que pareciam intermináveis. Preparou-se para avançar
pela pista, mas nada... O sinal continuava fechado! Decidiu olhar o relógio:
era evidente que sua impaciência devia estar "prolongando" o tempo,
e que aguardava por passagem há menos tempo do que supunha. Observou os
ponteiros do relógio com o semblante intrigado. Olhou para o lado, a fim
de ver como o motorista vizinho encarava aquela estranha demora. Não havia
ninguém ao lado; nem atrás do carro... De novo, olhou para o mostrador
do relógio. Inacreditavelmente, parara o carro há mais de cinco
minutos e não conseguia avançar pela pista, pois não surgia
uma brecha dentre o fluxo veloz e incessante dos carros ao longo da pista principal.
O carro "morreu", e ao religá-lo, precisou aumentar a potência
do ar. Embora já estivesse no "frio máximo", sentia o
suor escorrendo pelos cotovelos... Que situação! Resolveu arriscar-se
a alcançar os carros à frente, mas era impraticável! "E
se levasse uma multa por avançar o sinal?" __ Pensou. __
Dane-se a multa!
Reparou,
porém, que não havia nenhum guarda ao redor, nem outros carros ao
seu lado... Era tempo de alguém ter parado por ali... "Pronto! Na
certa, parara em local proibido. Tentaria uma marcha à ré, pois
era evidente que não haveria outro meio de sair daquele impasse."
__ Decidiu-se.
No
entanto, observou pelo retrovisor que um carro aproximava-se por trás...
"Isso dificultaria passar a marcha à ré. Precisava explicar
àquele motorista que o sinal estava enguiçado, antes que aparecessem
mais carros na fila de espera." __ Pensou.
Começou
a sentir um aperto no estômago, uma sensação de leveza na
cabeça e um calor inexplicável atravessando-lhe. O carro "morreu"
novamente. Após religá-lo, olhando para trás, não
mais viu o outro carro, que por pouco tempo lhe fizera companhia... Conseguiu
discerni-lo ao longe, adiante, seguindo o fluxo dos carros. "Mas como aquele
veículo conseguira passagem?" __ Admirou-se.
Seu
carro "morreu" novamente, e foi aí que desconfiou: "Havia
morrido. Só podia ser isso: morrera; decerto! Carros ultrapassavam seu
veículo, seu corpo... Tudo tão estranho!" __ Ignorava como
deveria proceder dali em diante. Experimentou uma sensação de perda.
Depois, vontade de chorar. Chegou mesmo a sentir uma absurda alegria: era segunda-feira,
não precisaria preocupar-se com a repartição... Voltou, porém,
ao raciocínio lógico. Se é que mortos raciocinam... Lembrou-se
de suas obrigações do dia, do mês, da vida. Recordou-se de
boas e más lembranças. No coração, uma imensa vontade
de ter perdoado quem lhe magoara e de pedir perdão aos que porventura houvesse
magoado.Coisas de quem morre; tarde demais... Contrariamente àqueles ponteiros
que se arrastavam, agora, o tempo "voava". Por sua mente, toda sua vida
era exibida como um filme em avanço máximo. "Mas que calor
era aquele que sentia? Onde fora parar depois da vida?"
Saiu
do carro e sentiu no corpo a tão conhecida brisa constante e fria que vinha
da lagoa... Um alívio que era aquela sensação! Então,
ouviu uma voz familiar:
__
Essa sua mania de dormir de edredom! Faltou luz e o relógio não
despertou. O condicionador de ar desligou, e você aí suando! Tive
de abrir as janelas para entrar um ar... Já é tarde! __ Alertou
sua zelosa irmã.
Sem
saber se ria ou refletia; chorava ou se apressava... Pulou da cama. Tomou uma
ducha e, em seguida, rumou para a praia. A água verde-mar acenava com sinal
livre! Que melhor forma de curtir seu primeiro dia de férias?
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