OS
CINCO SENTIDOS
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Tieme
Mise
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Uma fatia de bolo. Somente uma fatia de bolo repousando na brancura lisa do prato de sobremesa. Ainda fumegante. Meus olhos passeiam por sobre a superfície macia e saborosa, se mostrando sem nenhum pejo, aprisionada pela crosta marrom que a circunda. Um odor adocicado e salivante se eleva e formiga em minhas narinas que, inconscientemente, se abrem para uma inspiração sôfrega e gulosa. A fatia, cônscia de sua magia única, tem em si a nobreza bela do sucesso. Pequenos farelos em um tom dourado ornamentam o prato, aumentando a minha salivação. Uma vontade quase lúbrica me atrai e suavemente retiro da fatia, com meus dedos ávidos, um pequeno pedaço, ouvindo o crepitar delicado e convidativo. Fecho os olhos sentindo a textura da massa a se desmanchar sobre a superfície úmida de minha boca e o gosto delicioso passear pelas minhas papilas gustativas que tentam reter por mais tempo aquele sabor sem igual. Quase em transe o gesto vai sendo repetido numa tentativa de permanência, prolongando a satisfação e o prazer. Quando o último pedaço é erguido, minha língua ávida o vai buscar e ele é depositado, com todo cuidado no leito molhado da superfície rosada. Vai se dissolvendo devagar, espalhando a magia, percorrendo a maciez da boca, perdendo sua consistência, fluidificado e mole, descendo sonolento, para enfim adormecer num último lampejo, deixando na lembrança um sabor de sonho bom. No prato branco, restaram apenas alguns farelos dourados. Mas, na alma, escrito com tinta indelével, o sabor se eterniza! |