VÍTIMA DE UM AMOR SEM FIM
Patrícia da Fonseca
 
 

Quando a gente ama e, principalmente, quando a gente ama demais, parece que algo dentro de nós perde o juízo. Perde o traçado. Por vezes, falta um domínio de si mesmo. Uma vez na minha vida, uma única vez que me tomei de amores por um desconhecido que ainda me é desconhecido até hoje, perdi meu chão. A única coisa que me alegra é saber que nem ele mesmo se conhece, pois se esta criatura tivesse algum senso de si mesmo, seus pés estariam mais próximos da terra firme.

E quando a gente se permite amar com loucura e nada mais importa e nada mais a gente vê, é bom. É maravilhoso. É tudo quase o que sempre se quis. Eu, no meu caso, esqueci da minha vida e do mundo. Esqueci até que tinha uma personalidade em formação e em constante mutação para preservar. Meus cinco sentidos estavam diretamente conectados a ele, todos os cinco. Eu vivia para ele, ele era meu mundo.

Nunca fui o mundo para ele.

Foram meses de amor e dor. Mais dor que amor. Foram momentos que ficaram cravados na minha alma, que me julguei apaixonada e que pensei que um dia o milagre aconteceria. Eu esperava que chegasse o dia em que ele acordasse, virasse para o lado e descobrisse que eu era a mulher que ele tanto esperava que aparecesse. O milagre não aconteceu nem para mim e nem para ele. E ele partiu.

Meu mundo tornou-se terra devastada.

Meus cinco sentidos não tinham mais sentido. Eu não tinha mais ninguém para olhar. A voz que eu considerava a mais bela do mundo eu não escutava mais. O corpo que eu adorava me roçar não se importava com o toque das minhas mãos. E o gosto dele? Nunca mais encontrei em homem algum. O cheiro dele se perdeu em algum lugar das minhas entranhas… nunca mais senti nada parecido. Ele se foi. Eu fiquei.

Fiquei doente, emagreci. Fui pro shopping, gastei. Fiz tantas dívidas, que terminei de pagar no ano seguinte. Recebi conselhos e lenços de papel. Pedi férias e fui atrás. Se o encontrei? Claro que não. Voltei de mãos vazias e coração murcho. Jurei que nunca mais amaria ninguém. Foi o que eu fiz.

Hoje só me permito sentir tesão. A arte da conquista é coisa que me fascina. O flerte, os olhares roubados, aquele fogo de início de relacionamento. Depois de alguns encontros, tudo se vai, tudo se esvai. Fica somente o vazio e cada um vai para o seu lado. E eu começo tudo outra vez, a caçadora procurando sua próxima vítima. Tudo isto para evitar que a próxima vítima seja eu.