Em todos os sentidos
ele era um anjo.
Um anjo abençoado
que costumava plantar verde
para colher maduro.
Cultivava a terra como quem cultiva os sonhos:
passava horas e horas projetando imensas árvores
e lindos bosques de luz.
Curtia a vida
como quem aproveita o minuto roubado:
todo segundo era precioso
os minutos então... Além da conta!
Tinha amores
imensos
intensos
plenos.
Nunca teve medo de se entregar.
Por vezes foi amaldiçoado
com o amor sincero
outras foi roubado
pelo amor doado.
Mesmo assim,
continuou a amar.
E,na infinita ânsia de amar,
amou tanto que se perdeu.
Percebi a falta de brilho em seus olhos,
o tremor em suas mãos
como se a velhice o tivesse tragado
num minuto disforme
por inteiro.
Seus cabelos branquearam
sua fala ficou lenta
e seu coração bateu manso
como nunca antes...
Foi-se o tempo de sonhar
veio o tempo da despedida.
Amargurado,
não via o momento
de partir.
Estava cansado,
mas não aceitava mudar
a ordem do amor.
Quando, finalmente, descansou,
pediu-me desculpas por erros outrora cometidos.
Afirmei que não foram erros, foram pequenos enganos
numa vida tão cheia de amor...
Sorriu e agradeceu
meu último gesto de carinho.
Foi assim que perdi meu anjo amado
tão cheio de vida, de plantas e sonhos...
Foi assim que fiquei um pouco mais só.