OS CINCO SENTIDOS DO NATAL
Leila de Barros
 
 

O natal derrete todas as minhas lembranças adormecidas pelo tempo e os condicionamentos que nos impomos.

Sinto cheiro de neve, sem ter estado no Pólo Norte, sinto o aroma das manhãs de dezembro e de temperos de carnes e de panetones, que vão se misturando no ar como se saíssem de uma chaminé mágica.

Os aromas são a marca indelével do natal.

As sensações tomam conta de meu corpo sedento de brancuras e alvuras que só uma neve em flocos miúdos pode trazer.

Os olhos reluzem e buscam aqui e acolá o brilho das luzes decorativas que enfeitam as janelas e refletem a alma brincalhona que se solta das pessoas nessa época.

As vitrines tornam-se mais atraentes e convidativas, mesmo que seja apenas para atrair olhares curiosos.

Há mais bondade no ar e os sorrisos parecem confeitos coloridos, somos todos crianças no natal.

As papilas se aguçam e anseiam pelas tranças doces natalinas, decoradas com cerejas, com o toque aromático e exótico das essências, do cravo e da canela, sem comentar o pecado dos assados com caldas acre-doces...

As mãos tornam-se aveludadas, parecendo saber que haverá mais cumprimentos a serem dados, mais toques a serem realizados, mais abraços, mais proximidade.

A epiderme desperta para o lúdico, para o verdadeiro, para o acolhimento, essa pele nossa de cada dia, tão adormecida durante o resto do ano.

Ouvir o tilintar dos sinos do papai-noel nas lojas me remete aos filmes natalinos, à alegria festiva e telúrica das crianças, aos presépios artesanais do nordeste, aos cânticos e louvores e às rabanadas.

Nessa época, uma gula moderada tem alguns atenuantes.

Brindo com guaraná em taças de cristal, adoro esse gosto de champanhe infantil...