DECLARO AO ESPELHO
Virgínia Pinto
 
 

“Surgiu como um clarão
Um raio me cortando a escuridão
E veio me puxando pela mão
Por onde não imaginei seguir”

Surgiu em um verão, o amor me tirando da solidão. E fui seguindo sua mão, na contramão, por caminhos que eu mais queria ir.

“Fez-me sentir tão bem, como ninguém
E eu fui me enganando sem sentir
E fui abrindo portas sem sair

Sonhando às cegas, sem dormir
Não sei quem é você”

Transformei-me em outro alguém e fui me enganando, pra mentir. E não fechei as portas, pra não ir porque sonhava cega, o porvir. Quem é você?

“O amor em seu carvão
Foi me queimando em brasa no colchão
E me partiu em tantas pelo chão
E fui fechando o rosto sem sentir
E mesmo atenta, sem me distrair
Não sei quem é você”

O amor era paixão e foi me cegando em brasa no colchão. Não sobrou nem cinza pelo chão, me apertando em sua mão. Mesmo alerta, fiz sem sentir. Quem é você?

“Me colocou diante de um leão
O amor me consumiu, depois sumiu
E eu até perguntei, mas ninguém viu

E fui fechando o rosto sem sentir
E mesmo atenta, sem me distrair
Não sei quem é você”

Me despiu e se acobertou na escuridão. Atento me queimou e consumiu, depois partiu. Tentei abrir portas e sair, mas não abriu E fui fechando a alma, sem sorrir e sem sonhar ‘as cegas ao dormir. Eu sei quem é você!

“No espelho da ilusão
Se retocou pra outra traição
Tentou abrir as flores do perdão
Mas bati minha raiva no portão
E não mais me procure sem razão
Me deixe aqui e solta a minha mão
E fui flechando o tempo, sem chover
Fui fechando os meus olhos, pra esquecer
Quem é você?”

Não colou o espelho, nem o perdão. Nem tentou retoque da paixão.Não recebi mais flores no portão,mas não há mais busca sem razão e não vou sofrer a raiva da traição. Esqueça-me aqui, na contramão. Eu fui fechando a alma, sem sofrer e fui enxugando os olhos, pra não te querer.

Não sei quem é você!