NOVA DECLARAÇÃO - ARTIGO B
Thiago Pinheiro
 
 

Liberdade é coisa séria, coisa de pessoas sérias, tipo de quem está no lado avesso do mundo; o impopular lado B “– B só por causa da incompreensão, tudo depende da vontade coletiva que um dia talvez seja acordada”, mas o que acordaria essa vontade? Se perguntado a um fanático por Linux, a resposta vem rápida e firme - software livre!

Pra turma do software livre não existe hora, a madrugada muitas vezes é o único momento em que o sonolento mundo “A” deixa o B trabalhar sossegado. Durante o dia, é trabalhar no mundo “A” para sustentar o vício, a curiosidade – porque software livre é como um carro com câmbio manual, é mais difícil, mas muito mais pilotavel.

Eles se vestem de malha, muitas vezes mesmo em dias quentes, a maioria sem estampa, gostam de jaquetas com zíper, bolsos, mochilas, freqüentam lugares B: butecos B, reuniões B, onde comem salgadinhos B e cervejas “A”. Discutem assuntos B – mesmo diante de confusas pessoas “A” – sim! porque são capazes de abrir mão de água, de comida para “B-atificar” alguém.

Dica:
Se você for “A”, vão te olhar com uma inevitável cara de “já passei por isso...”. Gente “A” usa sistema fechado (Windows, Mac osx) e tem a mente igualmente fechada (pizza com catchup). Se quiser fazer sucesso em uma situação B, pergunte! Sim, pergunte como é!, pergunte se funciona, pergunte algo enigmático sobre informática e o futuro, e você passa a ser o dono da mesa; apenas não parta para algum argumento estilo Jô Soares: “- Mas alguém tem que querer fazer dinheiro com isso”. Se você fizer isso, declara um tipo esquisito de guerra, cada um vai falar das vantagens da liberdade e você sairá bem tarde dali; convencido nem que seja no cansaço.

Existe também a vertente dos filósofos B do software livre, sim porque tem gente (mesmo "A") que vê arte nessas coisas, se interessando por conceitos B, “we live in a matrix”, dizia a capa de uma revista cientifica “A”, sugerindo uma concepção binária de universo real.
Algum novo filósofo (certamente não usava Windows) compreendeu que tudo é codificável em duas formas: o que existe e o que não existe – o zero e o um. Talvez Deus seja hexadecimal. (Um usuário de Linux riria dessa piada).

Usuários de Windows são vítimas do sistema, cavalos celados, gente a mercê dos que são mercenários – alias não só dos mercenários, gente assim simboliza o mundo “A”; o das grandes corporações, das derrotas sociais, da fome na África, da má distribuição de renda, do fracasso no controle ambiental.

Neste contexto, software livre torna-se um símbolo de transformação; uma vontade de dar a volta por cima. Gente B está engajada em eventos sociais, quer salvar a mata atlântica, quer mudar o mundo das mais diferentes formas - Se você gostou da idéia, entre para o “meta-fazenda” ou para o “bio-campus-lab” ou quem sabe para o “libertaclube”?

Esses redutos B são agrupados de forma semelhante a células terroristas (se você for americano, calma): em casas de moradores solitários, na madrugada – entram e saem em silencio, mas quando a porta fecha os planos começam. São missionários de uma liberdade gratuita que poucos querem: “– isso vai mudar, precisa mudar!”

Ah! Gente “B” viaja, viaja muito, e gosta de destinos onde a informática não chegou, é para ter contato com a terra, com o lado B radical, o que é desmatado diariamente; Ou então viajam para grandes cidades, fóruns de discussão sobre futuro, exclusão digital, direitos sociais,..., a turma do software livre é de um certo modo um parlamento global, tentando escrever uma nova constituinte, uma nova declaração dos direitos digitais e humanos.