NÃO
DOU FÉ
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Ana
Terra
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"Temos
disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso
nunca falamos no que realmente importa." Declaro, para os devidos fins, que tenho medo da loucura. Da minha e a dos que me cercam. A insanidade me acompanha desde sempre. Caminha lado a lado comigo. Minha fragilidade cresceu junto com o medo. Para sobreviver, envolvi-me num duelo: eu ou ele. Teci minha armadura. Com agulhas pontiagudas fiz laços e nós acreditando ter conseguido um tecido resistente. Mas bastou um descuido, uma carência, um encanto para que a loucura se infiltrasse novamente pelos vãos dos laços e nós. Uma bela loucura. Uma terna loucura que chega pequena, mansa e delicada. Pensei ser borboleta e sai do casulo. Presa fácil para o medo que, sem esforço algum, invadisse minha casa. Os laços e nós desmancham e estou eu nua novamente. A covardia reassume minha emoções. Meu corpo estoura: dores, dores e dores. Encolho num canto qualquer. Não se por onde recomeçar. Deveria ter saído correndo na primeira crise de histeria, mas me faltou coragem. A razão não funcionou e o coração louco, sem tino, me prende numa desordem caótica que cresce na mesma proporção que o medo. Minha amiga ansiedade esfria minhas mãos e suor. Contorce meus nervos e músculos. Tento refazer os laços e nós da minha vestimenta. Os fios se embaraçam no chão. Estou encolhida, acuada, minúscula, impotente na disputa entre razão e coração. Não dou fé pois o referido não é verdade. |