A coisa mais ilusória
É a verdade contida
Nas palavras comedidas
Que são ditas nessa história:
Eu tenho dezoito anos
Sou belo, forte, ariano,
Moro no Rio de Janeiro,
Falo inglês e coreano.
Meu corpo é escultural
E pondo modéstia á parte,
Sou deus Apolo carnal!
Trabalho nas Belas Artes
Onde sou modelo e ator.
Nas poucas horas vazias
Em Inglês sou professor!
Nisso, chegando o gerente,
Fica espantado com a audácia
Do boy ao computador.
Diz-lhe em tom de censura:
-Sai daí, Adamastor!
Olha que eu tenho lisura
Sem golpe baixo, isso não,
Não conto para o patrão.
Mas saia logo da frente,
E antes que o café esfrie,
Sirva agora ele pra gente!
Com os olhos arregalados,
Sai o senhor, que calado,
Sente as batidas no peito,
E feliz, canta baixinho.
Por uns minutos apenas
Foi eliminado o problema
De ser pobre, velho e feio.
E sorrindo, sem receio,
Vai servindo o cafezinho...