AMOR
NA TARDE
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Luís
Valise
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A coisa começou quando fazia compras num supermercado, e nos encontramos na seção de queijos. Ela escolhia um camembert, eu disse que era o meu preferido, veja só que coincidência, e logo acabamos no meu apartamento. Estávamos nos dando bem, mas a coisa desandou quando ela pediu: - Diz que me ama... Como uma mulher pode pedir isso a um homem na hora em que ele está com seu pau duro dentro dela? Fiquei enfurecido, tratei de gozar e em seguida apertei seu pescoço até que ela ficou roxa, e morreu. O policial que atendeu a ocorrência, vendo minha biblioteca farta de livros, deduziu que eu tinha grana, e tentou se dar bem: -
Doutor, cá entre nós, existe uma maneira de suavizar a
situação. -
É? Como? -
Bem, tudo tem seu preço, e a liberdade vale ouro. Entende? - Meu caro delegado, vamos esclarecer de uma vez por todas: primeiro, não sou Doutor porra nenhuma; segundo, não dou dinheiro pra vagabundo! Não sei qual das razões mexeu mais com ele, só sei que as coisas mudaram a partir daquele instante, pois assim que terminei de falar tomei uma porrada na cara que me inchou a boca na hora, e eu detesto gente que usa da força na falta de melhores argumentos. Por estar algemado, minha reação foi apenas verbal: - Saiba que darei parte desta agressão aos seus superiores! Foi o suficiente pro cara me dar outra porrada, mais forte que a primeira, pois quando eles sabem que a gente não é Doutor abusam mesmo. Vendo que aquele era seu único argumento, achei melhor permanecer calado. Jogado na traseira de um camburão, comecei a achar que tinha feito besteira. Poderia ter dado uns murros na cara dela, ou uma cabeçada. Talvez matar tenha sido um exagero. Fiquei frente a uma juíza de olhar severo, que perguntou: -
Por que o senhor a matou? - Por amor, meritíssima. Por amor. Posso estar enganado, mas juro que vi seus lábios esboçarem a intenção de um sorriso. Mulheres adoram histórias de amor. Meu julgamento terminou há pouco. Os jurados seguiram as instruções da meritíssima: atenuante por motivo de violenta emoção, e a pena foi de doze anos de reclusão. Com bom comportamento, um sexto, dois anos. Do bendito camembert, até o julgamento, passei dezoito meses preso, sem arrumar encrenca, o que quer dizer que estou praticamente solto. É verão, e o supermercado resplandece cheiros e cores. Empurro meu carrinho sem pressa, escolhendo com cuidado o que me apetece. Cruzo com uma mulher, cerca de um metro e sessenta, vestido leve, sandálias de salto, cabelos úmidos. O amor está no ar. |