BRINCADEIRA NÃO TEM HORA
Antony Bergson
 
 

Na época, que aconteceu isso que vou explicar, eu namorava uma garota que fazia faculdade de filosofia. Conheci ela numa dessas festas universitárias. A principio achei ela muito sossegada, mas depois descobri que ela tinha uma agonia guardada, e princípios que faziam dela uma pessoa muito especial para mim. Eu admirava Sartre e Simone. O relacionamento dos dois foi um exemplo pra que eu me livrasse de idéias que são comuns e hipócritas na sociedade brasileira. E o fato que mais admirava na minha namorada era ela estudar algo para ter uma ideologia que possa ser uma evolução, e, mais que isso, seguir sua ideologia sem se importar com conceitos morais, tão comuns numa sociedade que finge ser civilizada.

Ela admirava Sartre e Simone, também. Nós combinamos de seguir os princípios deles, mesmo sabendo pouco, praticamente o básico, sobre suas idéias. Digo, seguir os princípios deles em nossa relação de homem e mulher.

Combinamos que nós teríamos um vínculo, um com o outro, que estaria acima de qualquer relacionamento que tivéssemos em paralelo. Claro que no começo ficávamos estranhos, pois ambos tínhamos sido criados numa família onde pai e mãe só transam, oficialmente, entre eles. Qualquer relação amorosa em paralelo seria o fim da nossa família. Porém, nos acostumamos, e mantemos essa relação aberta, sem maiores problemas.

Certo dia, ela veio com uma idéia, que eu achei até legal. Ela disse “Tenho uma idéia fascinante pro nosso namoro! Irá marcar nossa vida! E no fundo, sei que ambos desejamos isso, no nosso interior.”. Pensei que fosse algo surpreendente, que, mesmo eu me esforçando, nunca iria conseguir descobrir. Odeio segredos. Então ela desembuchou “Tenho uma amiga, que está na mesma sala que eu, ela propôs um “swing”. Tipo, eu transo com o namorado dela, e você com ela, e eu com ela, e você com o namorado dela, e eu com você, e ela com o namorado dela, deu pra entender?”. Claro que entendi. Era uma suruba, o que ela queria. Achei legal, e disse pra ela marcar o dia, que, por mim, seria um prazer participar dessa brincadeira.

Quando conheci o casal, dentro da faculdade, eu logo percebi que o cara era um grã-fino que gosta de fazer coisas sem se importar com as conseqüências. Também pensei que eu estava sendo muito idiota em querer definir alguém logo na primeira conversa. Mas confesso que o jeito dele falar, aqueles olhos verdes, seu corpo atlético e até mesmo sua forma de mexer as mãos me levaram a pensar que ele era um retardado.

Marcamos o dia. Digo, minha namorada marcou. Encontramo-nos na casa do rapaz. Bebemos e conversamos das 18:00 até as meia-noite. Até que a amiga da minha namorada propôs que começássemos a brincadeira. Ela foi falando e tirando a roupa. Então todos seguiram o mesmo caminho. Ela tinha os peitos duros e relativamente grandes, uma bunda lisa e muito branca. Ela tinha se depilado inteira. Estava muito gostosa. Fiquei excitado na mesma hora. Minha namorada olhou pra mim e riu, dizendo “É seu safado, comigo você só vai pra frente na base da chupeta”. Eu ri, normalmente. O rapaz pareceu ficar tímido. Mas minha namorada já foi beijando todo corpo dele, enquanto a amiga da minha namorada, fazia sexo oral com um jeito particular de sugar que só de lembrar fico de pau duro. Tudo foi continuando, até que percebi que o rapaz era o que mais se divertia. Ele me beijava, enquanto minha namorada passava a mão pelo seu corpo, e parecia estar muito feliz por aquilo. Confesso que não achei tão divertido como pensava. Acho que sou tímido pra transar na frente dos outros. Então, tudo foi desenrolando agradavelmente, e quando resolvemos parar, todos já tinham conhecido a todos.

Duas semanas depois, nós quatro fomos almoçar na casa da minha mãe. O rapaz como sempre, falava com desenvoltura e era muito agradável, fazia qualquer um rir. O problema é que ele se levantava muito da mesa, e eu me irritava com isso, pois o maldito toda hora era o centro das atenções. Quando voltava, minha mãe comentava “Aí chegou o nosso gentleman”. Percebi que minha irmã olhava muito pra ele, também ele não parava de falar! E assim foi nosso almoço.

Passado mais algum tempo, minha irmã saia com o casal, aquele da orgia já falada, e eu não deixava de imaginar que minha irmã estaria se divertindo com eles, sexualmente. Mas isso não tem problema. Sei que se meu pai fosse vivo, ela não teria coragem de fazer isso. Não era do caráter dela, pois ela não saia por estar rompendo algum valor burguês, e sim porque estava sendo iludida. O leitor pode pensar que ela fazia isso por prazer. Se fosse apenas por prazer ela se masturbaria e não sairia. O fato é que ela não sabia o que fazia, e isso me incomodava. Se pelo menos ele fosse um desconhecido. Mas eu conhecia o infeliz. E o pior de tudo, que me deixava mais puto, é que ele me tratava como se eu não soubesse de nada, como se ele estivesse tirando proveito de mim, e eu nem percebia. Ah que cara idiota! cada fala dele eu já conhecia, e sabia o que tinha por trás.

Porém, isso não foi o fim, depois de anos vim saber que o maldito saiu com minha mãe. Pena que já não estava mais perto de mim, pois eu mataria ele. O desgraçado teve a audácia de fazer isso comigo. Se no caso da minha irmã ele já era agradável comigo, quando saiu com minha mãe ele se tornou um doce. E eu até percebi essa mudança mas minha mente não ia tão longe, em desvendar aquelas falas :“Seu filho é um grande homem, nunca conheci alguém mais inteligente”. Ele me elogiava na presença da minha mãe, e eu pensava que ele estivesse comendo era minha irmã, mas...