UMA
LIÇÃO PROFUNDA!
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Adriana
Vieira Bastos
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Com
este golpe baixo, revelado numa impiedosa frase, se deparava com o final
de uma historia que nem havia começado ...
Atônita, jogou o telefone no sofá, levantou-se, foi em direção à estante e escolheu um tango argentino para acompanhar o martelar impiedoso do turbilhão de sentimentos, que sem licença apoderava-se de sua confusa cabeça... Precisava de mais! Foi a geladeira, abriu um vinho branco e brindou a estranha sensação de ter sido considerada um exercício. Um aprendizado... Um brinde amargo, solitário. Queria ser mais do que um momento... Mais do que apenas uma lição profunda... Tomou o conteúdo da taça de uma só vez. O vinho que antes oferecia um paladar suave, desceu rasgando. Não sabia se era a uva ou os indigestos sentimentos atravessados em sua garganta... Levantou outra taça e brindou a falta de culpas. Com um sorriso desbotado tinha de reconhecer: não havia culpas... nem culpados... Havia, sim, o nada impedindo o tudo ... O nada que, naquele momento, poderia oferecer... Só um sonho com a remota possibilidade de se tornar um dia realidade... Mais uma vez sorriu. Um sorriso triste e acabrunhado. Agora, com a cruel realidade batendo a sua porta, descobrira que nem mais sonhar deveria... A cada brinde, uma despedida. De um gesto. De uma fala. De um sorriso. De uma surpresa. De um impacto. De um tímido ousar ... E de adeus em adeus, olhava para a garrafa, quase vazia, procurando no entorpecer da bebida, que tomava conta de si, entender o porquê de ter sucumbido aquele doce encantamento. Havia se descuidado demais! Justo ela acostumada a não se deixar levar pelas coisas do coração... Sentiu as pernas bambas, a cabeça zonza e a vontade de arrancar do peito toda a sua tristeza por este abrupto despertar. Mas, antes que se deixasse levar pelo clima melancólico, optou por desligar o tango e apreciar a última taça em silencio ... Este seria um brinde especial. Um brinde às doces e inesquecíveis lembranças que levaria consigo, deste louco e inebriante sonho vivido. Colocou a garrafa vazia sobre a mesa e com o vazio dentro do peito, foi aninhar-se nos braços do morpheu, torcendo para que não fosse penalizada, na manhã seguinte, pelo desatino alcoólico cometido. Sabia o árduo dia que a esperava... Afinal, a vida continua... |