O DESPERTAR
Tieme Mise
 
 

O casulo se abriu e, temerosa, a pequena borboleta agitou suas diminutas asas, olhando extasiada para a claridade que se descortinava pela primeira vez á sua volta.

Dentro da obscuridade em que, retraída, permanecia, a tênue luminosidade que lhe chegava aos sentidos não rompia a timidez inibidora dos primeiros passos, apesar do sonho de uma liberdade alada sem retrocessos.

Mas, eis que as paredes daquele frágil arcabouço não resistiram á intensidade da luz que minava as suas defesas e num momento no qual o desejo de alçar vôo foi mais forte, a pequena borboleta bateu asas e voou.

Um olhar, apenas um olhar, e um novo horizonte se descortina, exuberante e convidativo, sempre presente, mas nunca detectado.

E, como criança que sente a segurança de estar em pé e, vacilante, tenta os primeiros passos, assim me vejo.

Chegou a hora, afinal, do reprimido grito ecoar com toda a sua força e fazer tremer as velhas estruturas fincadas com aço em solo rochoso, que sempre resistiram ao vento forte, embora corroídas, mas mantendo-se de pé com vigas e escoras.

Chegou a hora da liberdade da alma, cujo grito sufocado fremiu por tanto tempo no peito.

Chegou a hora do gorjeio do pássaro cativo, do canto tantas vezes cantado em silêncio, belo, forte, sublime, mas que nunca foi ouvido.

Voa, pequena borboleta, voa bem alto, cruza os horizontes com tuas frágeis asas e vê o esplendor do arco íris, dos vales e do oceano.

Navega em teu próprio sonho, não para encontrar guarida em algum porto seguro, mas pelo simples prazer de voar.

Mostra ao mundo quem sou eu, na beleza dos gestos simples, na inocência do instante e na pureza dos sentimentos.