MUTATIS MUTANDIS
Mariana Monteiro
 
 

Sujeito indeterminado, artigo indefinido, futuro do pretérito mais-que-perfeito. Contraditória, ambígua, volúvel. Sensível. Por que choras, geminiana? Não vês que a vida é assim mesmo, passageira, intensa? Sei, sei que não é tristeza, é emoção. Explosão de pensamentos e vontades e liberdades e tudo o mais aí dentro esperando para ganhar o mundo. Sonhos, impulsos, tudo, tudo ao mesmo tempo e agora, pra já. Idiomas que nunca aprenderás, livros que nunca lerás, países sem a sua visita. Terrível, não? Curiosidade, músicas que embalam muitas vidas, calor e frio, vento forte quando se encontra com a brisa leve num fim de tarde de outono mas que também poderia ser uma manhã primaveril. Querer ter a voz grave e mesmo assim adorar Jewel. Vestidos soltinhos, calças para ser livre, declarações anotadas a lápis, histórias escritas a caneta para durar para sempre. Pressa. Calma. Cantar sozinha no carro, bem alto, com os vidros fechados e o rádio no volume máximo, chuveiro não, que é solidão, novela de época nem pensar, muito chato, mas o Rio Antigo, as mulheres com aqueles vestidos compridos, o bondinho, devia ser maravilhoso. Carregar o celular para todos os cantos e se sentir nua e maravilhosamente livre sem ele. Chocolate, morangos, cerejas, medo do escuro, vinho tinto seco, mas não muito, praia no inverno é muito bom, mas bom mesmo é horário de verão, chegar em casa ainda de dia, apesar de no inverno as pessoas parecerem mais arrumadas. Carne ao ponto, noite, acordar cedo e caminhar na praia antes do sol a pino. Compromissos são prisões não declaradas, sem ampla defesa e contraditório. Livros que não serão lidos, TPM, choro antes, durante e depois, medo de filme de terror, curiosidade para saber o final, medo de fantasma e de gente real e má, de altura também, rapel é bom, Chrysler a Empire, academia não, correr na praia é bom quando acaba e fica a sensação de dever cumprido, bom é dançar, velha para dançar balé, desafinada, linda, canto com emoção. Escrevo sobre coisas que aconteceram, coisas que queria que acontecessem e coisas que só aconteceram na imaginação. Medo de casar e não ser a pessoa certa. Não acredito em anjos ou almas gêmeas, mas torço para encontrar um dos dois perdido por aí. Leio Alquimista quando em dúvida existencial. Tiro fotos das flores que recebo, pois sei que vão morrer por falta de cuidado. Nunca arrumo a cama. Confesso: tenho preguiça de escovar os dentes antes de dormir e detesto passar fio dental. Loira, morena, ruiva. Pulei o muro para fugir de casa. Já tive amizade por interesse. Já conheci um monte de gente e ao mesmo tempo senti o vazio de não ter amigos de verdade. Escrevo sob pressão. Detesto que me cobrem amor. Ou horário. Mudo os móveis de lugar, sempre. Tenho problema em identificar cores, mas já fiz o teste e não sou daltônica. É que enxergo aquilo que quero ver. Clarice. Já fiz dieta com hora marcada para comer e sentia cada vez mais fome. Joguei tênis, golfe, fiz natação, triatlo, musculação, barra, balé clássico, jazz, dança de salão, teatro, violão, baixo (aquele grandão), nunca consegui tocar flauta. Meu filme favorito são vários, mas Flashdance está com certeza entre os dez melhores. Péssima memória para nomes e datas, pode ser um problema. Ou não. Assistir ao mesmo filme várias vezes sem lembrar o que acontecerá. Não sei cuidar de plantas. Caminhar para trás dá azar. Comer o último pedaço não casa. Não gosto de voltar. Mas é sempre bom recomeçar. Carente, descrente, mística, desorganizada, descompromissada, não necessariamente nessa ordem. Certeza de nada, só que vem da alma. Essa sou eu. Será?