A TURMA
Jacimara Lourenço Tenório
 
 

O ano? 1979. Lugar? Escola. Mundo onde acontecem tantas coisas na vida de muita gente.

Tenho muitas lembranças dessa época e de todas que guardo, a que mais me causa nostalgia é a minha turma do ginásio, mais conhecida como “tchurma”, eram eu, Eliete, Tânia, Célia, Cris, Wilson, Serginho e Sidney. Todos na flor da idade, descobrindo o amor, a vida, o mundo...

Aquele mundo para nós foi como um alicerce, podíamos contar um com o outro, ter confiança, rir e chorar juntos, éramos muito unidos, coisa rara nesse mundão. Essas pessoas que fizeram parte da minha vida eram muito especiais e continuam sendo, todos sem exceção tinha uma personalidade impar e não descrevê-los seria matar a história aqui nessas poucas linhas.

A Eliete, magra, estatura mediana, cabelos escuros, olhos verdes, fanática pela Kate Bush, inclusive fazia demonstrações de sua coreografia em matines que realizávamos nos sábados e domingos a tarde. Uma figurinha, elétrica, falante, com unhas enormes, pobre daquele que ousasse desafiá-la, no mínimo sairia com boas marcas pelos braços e onde mais ela pegasse.

A Célia, uma pessoa doce, tranqüila, inteligente pacas, daquelas que só tiravam “notonas”, eu passava todos os dias em sua casa, antes de irmos para a escola, que ficava a 50 metros de lá.

Tânia, baixinha, era a mais encorpada das meninas, chamava a atenção dos meninos e chegou a namorar o Sidney. Com ela aprendi a gostar do Bee Gees, a gente tocava tanto os L.Ps, isso mesmo os antigos bolachões, horas a fio sem nos cansar.

Cristina morava numa bela casa, era super caprichosa, super vaidosa, sempre ia cheia de penduricalhos, próprias de adolescentes de classe média-alta, mas uma pessoa maravilhosa, nem se dava conta do que tinha.

Wilson era um menino sério, reservado, tímido, mas gente boa, nunca tivemos problemas, apenas num dia que resolveu grudar chicletes em meus longos cabelos, minha verdadeira adoração. Naquele dia, fui empurrando o Wilson contra a parede e dei uns belos safanões.

Serginho, uma peçinha de outro mundo, vivia arrumando encrenca, desafiando os professores, e naquela época encarnou o John Travolta, ia de jaqueta de couro, e brilhantina nos cabelos.

Sidney, o galã da turma, não era um tipo bonito, mas tinha um vozeirão, tipo menino quase homem, encorpado, dado a “papo cabeça”, as meninas adoravam e eu também, lógico!

Hoje, consigo relembrar muitos momentos juntos e resolvi contar alguns. E olha que foram tantos momentos, teria que escrever um livro.

Aquele que mais ficou marcado foi o dia que o Serginho mudou-se de cidade, Várzea Paulista, uma cidade pequena, bem próxima de Jundiaí, a Eliete estava apaixonada por Serginho e não se conformava em não passar os finais de semana com a turma e ele junto. Pois bem, a Eliete me convenceu que iríamos a pé até a outra cidade sem saber onde ficava a casa do Serginho, mas como toda menina apaixonada, ela não mediu esforços para vê-lo. Naquele dia, a Eliete estava de babá da irmã mais nova, uma menininha insuportável, doida para nos delatar para nossas mães.

Fomos andando, sem rumo e sem direção, até as pernas não agüentarem mais, e Eliete como nossa guia, ia seguindo relembrando de alguns detalhes que o Serginho contava e na cabeça dela, era o caminho certo a seguir. Andamos tanto naquele dia, até que a “pentelhinha” da irmã de Eliete cismou a reclamar e querer seguir o trajeto no colo da pobre Eliete. Imaginem só, estávamos no meio do nada, longe a beça, com um detalhe entristecedor, teríamos que voltar o mesmo trajeto até nossas casas, revezando a pentelha no colo. Escureceu...

Aquele dia levei uma surra fenomenal, tive que usar calça comprida para ir à escola, pois mamãe tinha me deixado duas belas marcas de cinta em minhas pernocas.

Foi uma aventura e tanto, valeu a pena, nunca fomos tão longe, com nossas próprias pernas e aja pernas!

Outro fato, que hoje não sei se foi triste, alegre e de pura sacanagem mesmo. Todo final de ano, a escola fazia a Feira de Ciências, e a nossa turma iria falar e demonstrar tudo sobre a vida das abelhas.

O nosso professor disse que teríamos que aumentar um na nossa equipe e escolhemos a Salete, uma menina com 1,80 de altura, imensa em todos os sentidos, mais velha que todos, tinha repetido alguns anos. Lembro que morria de medo dessa Salete, com ela tudo era resolvido na “pancada”. Ficava bem quietinha. Como ela era a mais velha e a mais forte, deu uma de líder o tempo todo, a gente nem discutida, ia logo obedecendo. Fizemos um trabalho lindo, com a ajuda de um senhor que tinha uma pequena criação de abelhas e produzia mel para seu consumo e vendia aos vizinhos a produção excedente. Chegamos a construir um pequeno apiário entre duas placas de vidro para demonstrar como as abelhas produziam o mel, tudo com a ajuda desse senhor.

Lembro que fiquei encarregada de falar sobre a anatomia da abelha e estava na ponta da língua tudo sobre esse inseto.

Vocês devem estar se perguntando, o que essa história tem de tão interessante assim, eu lhes digo que uma pequena vingança que maquinamos contra a Salete. Foram tantas humilhações, safanões e tal que achamos que ela merecia uma lição. Foram cinco dias de apresentação, tudo perfeito, mas o que a Salete não contava com um final tão maldoso da nossa parte. Não quero justificar um ato tão desumano, mas que ela merecia, merecia.

Ao final da feira, todos estavam desmontando seus espaços para encaixotar e levar de volta as nossas casas, pois não poderiam ficar no salão de exposição. Começamos a encaixotar tudo, sempre aos berros e ordens da tal Salete. Ela não contava que a certa distância dela, já combinados, deixaríamos todas as caixas para ela carregar. Saímos correndo feito doidos, rindo, quase sem fôlego, mas satisfeitos pelo vingança. Sabíamos que ela não poderia nos perseguir, pois tinha as caixas para tirar do salão.

Não sei bem o que aconteceu com ela, pois no próximo ano, ela não voltou para a escola. Foi um suspiro coletivo de alívio, imagina o que ela poderia fazer contra nós.

Ficamos até a oitava série juntos e depois no separamos, cada um foi para uma escola diferente para concluir o ensino médio, o antigo colegial e perdemos contato.

Em 2006, estava vendo as comunidades do orkut e achei uma comunidade do extinto SESI 313 e lá para a minha surpresa encontrei Serginho, Wilson, Célia. A Eliete já tinha reencontrado um pouco antes, trabalhamos numa mesma escola.

Há dois meses atrás tive a honra e a alegria de reencontrá-los em um encontro promovido pela amiga Célia. Confesso que meu coração encheu de alegria quando os vi, e sei que hoje terei todos ao meu lado novamente e tenho certeza de que as pessoas realmente ligadas não precisam de ligação física. Quando se reencontram, mesmo depois de muitos anos afastados, sua amizade é tão forte quanto sempre foi e que somos um pouco de cada um dos nossos amigos, pois juntos construímos a nossa história.