CURVA DE LUZ
Gildo Staquicini Jr
 
 

A pergunta é simples e deveria engendrar resposta idem. Mas o problema não é esse. O que entrava tudo é o lugar, o momento. Uma simples questão, portanto, de tempo-espaço. Uma leve curvatura da luz e, pimba!, lá vamos nós para Vega ao invés de Saturno e, assim, mais um final de semana perdido.

A hora e o local são tudo. Definem tudo. Vejam só: tivesse eu entrado à direita na décima terceira encruzilhada e estaria agora chegando a Atenas e não na beira deste precipício. Naquela exato segundo o sol se moveu por detrás das nuvens e o caminho à direita, aquele mesmo com poucas árvores, ficou cheio do sol do meio-dia, o que me daria uma jornada suarenta, sem dúvida. O da esquerda, aquele ladeado de muitas árvores frondosas, era muito mais agradável, embora soubesse de antemão ser o mais longo. A hora e o local são tudo.

Quando o mestre nos inquire sobre tema árido, se demoramos a responder, ele logo percebe que ou não sabemos ou sabemos muito mal. O momento é tudo. Se o amigo nos pergunta sobre banalidade, quando estamos com muito vinho do copo e mais ainda na barriga, que mais poderíamos dizer além de besteira? O lugar é tudo.

Da beira do precipício é impossível não chamar de belo o que se vê. O quadro, feito de amplitude e luz, cores e vastidão, silêncio e gigantismo, é coisa que faz pensar que, se o mundo não começa aqui é injustiça, pois é aqui que deveria iniciar e findar. Quase como Atenas, onde quase tudo começa e, com certeza, onde tudo terminará. Eu deveria mesmo ter virado à direita... Culpa da luz. E do espaço-tempo.

Alimento de esfinge, eis o que sou. Lugar intermediário na cadeia alimentar.

Espero que aquele rapaz, que vejo vindo ao longe e que parece mancar de um dos pés, tenha melhor sorte.