LÁ VAI ELE OUTRA VEZ!
Sophia Lange
 
 

Ele diz que quer está indo pro bar. A desculpa é sempre a mesma "Eu vou encontrar a turma".

E a mulher: "Mas já vai de novo para aquele boteco? Toda a semana é isso! Quero ver se eu batesse a porta dizendo que ia encontrar a turma! Ah, sim... Ia ser mãe relapsa, que larga os filhos, a casa, o marido. Era capaz de dar até abandono de lar!"

E ela não sabe o que tem nessa turma, que ele sempre volta assim, meio trôpego. Cantarolando antigos sambas-canção... E derrubando tudo que estiver no caminho e o que não estiver também, porque coisa difícil é andar em linha reta depois de encontrar a turma. Larga o paletó no chão... Até no rabo do gato ele pisa. Que judiação!

Ai, ela reclama "Você chegou bêbado de novo? Mas que coisa. Quando eu casei, não casei pra isso não, senhor. Bem que minha mãe avisou!"

E ele diz, com a boca mole, querendo disfarçar: "Schhhh! Vai acordar as crianças! Bêbado nada. Só tomei dois chopinhos. Coisa de nada."

E ele dorme, e ronca... E ela reclama que não consegue dormir. Vira pro lado, bufa, solta uns três palavrões e logo cai no sono. E então já estão os pés entrelaçados.

Ela acorda no dia seguinte dizendo "Levanta, homem!". Mas não de uma forma qualquer... Em altos brados, que é pra castigar a ressaca.

E quando não é a turma do bar... É a vez da turma do futebol...

Lá vai ele outra vez, feliz da vida, todo prosa... Só porque vai encontrar a turma, falar da partida de domingo. Fazer troça com aquele amigo esquisitão. E tirar samba da caixa de fósforos...

E quando ela reclama de novo, ele diz "Po, mulher! Me deixa em paz... Eu trabalho a semana toda. Você pode reclamar do que for, só não reclama da turma. A turma é legal. E olha, a gente não faz nada de mais. Prometo que na volta eu trago aquele doce que você gosta!"

E ela retruca, com uma mão na cadeira e colher de pau na outra: "Traz doce nada, do jeito que tu anda, vai é trazer jornal e pão".