Se o toque da alvorada era o mais bonito, fazendo com que tivesse uma visão romântica do ato em si, do soldado em pé, perfilado, me lembrando do filme "A Um Passo da Eternidade", já o toque do silêncio era o mais triste, melancólico, anunciando o fim da noite, o avanço das sombras, dos espectros, do ver o não visto, dando lugar à imaginação.

Meu beliche era perto da janela e, às vezes, ficava contemplando o caminhar do luar entre os sons que pelo dormitório lentamente avançava.

Um som aqui, outro ali, o roncar de um soldado, os passos do plantão, o momento do invisível tomar conta do espaço, do proibido tomar forma em ato e ações.

Era o sagrado momento que todos ansiavam, o descanso, dormir mesmo que fosse só quinze minutos. Onde as histórias contadas a luz do dia, crescia a luz da lua com seu manto encobrindo de sombra o inimaginável.

E para os que estavam de serviço, era o momento da ronda.

Muitas vezes fui obrigado a fazer ronda, em diversos pontos do quartel. Não gostava, pois a mente comandava ver o que eu não queria ver, surgiam formas bizarras, estranhas, esquisitas, assustadoras.

Creio que nenhum soldado tenha feito a ronda como se devia: andando de um determinado ponto a outro, principalmente nos alojamentos, os quais, deveriam ser vistoriados de hora em hora, um imenso cômodo cheio de beliches parecendo cavidades monstruosas com seus malignos sons, vistoriando beliche por beliche, olhar as faces entregues ao prazer do sono com seus sonhos ou pesadelos.

Acho que nenhum soldado percorreu, não só os dormitórios, como qualquer outro lugar. Eu me plantava num lugar só e ali ficava até que fosse rendido.

De manhã, ao toque da alvorada, os plantonistas tinham que acordar a turma, principalmente os preguiçosos que não queriam levantar.

Assim que o último soldado saia começava a limpeza em todos os cantos do esquadrão, alojamentos, escadas, corredores, banheiro.

A troca das turmas de serviço era feita depois do almoço ao toque para o início do expediente da tarde.