PLANEJAMENTO FAMILIAR
Cris Dakinis
 
 

Rivaldo é funcionário de empresa pública e percebe salário razoavelmente condizente com suas atividades e com seu nível de instrução. Ele, sua mulher e filhos possuem plano de saúde familiar da empresa em que ele trabalha. Daí, que estranhou quando uma assistente social de um posto de vacinação infantil o alertou para que se informasse sobre planejamento familiar.

_ Mas se a turma toda lá de casa já tem plano de saúde, de horário, de tarefas e de tudo o mais que se possa planejar... _ Olhe, a gente vive numa organização, que de outro modo, haveria jeito de tocar o dia-a-dia não. É a turma toda unida!

Rivaldo e sua mulher possuem sete filhos, estando o mais velho com a idade de oito anos. Afora para ele ir trabalhar, saem todos sempre juntos. Sua senhora não trabalha fora devido aos tantos filhos para tomar conta.

E foi num supermercado que eu os conheci. Sua turma toda unida e ... reunida. Mal pude acreditar: pareciam um bando! Caminhavam todos juntos pelo mercado. Dois filhos bebês ao colo, as outras crianças de mãos dadas. Era um tal de chamar por um e outro para conferir a presença ou reparar a ausência. Um milagre conseguirem realizar as compras __ que segundo ele, eram efetuadas uma vez ao mês __ de tudo o que necessitavam de suprimentos para aquele intervalo de trinta dias. Era tudo adquirido, se possível, numa leva só. Um maiorzinho tomava conta doutro menorzinho. Outro ajudava a embalar as compras, outra a auxiliar a mãe com uma garrafinha de água pra irmãzinha de três aninhos. Ofereci ajuda ao vê-los naquele alvoroço, enquanto Rivaldo empurrava dois carrinhos encadeados ao longo dos corredores de mantimentos, sempre seguido da família toda. E estavam todos muito alegres com aquela empreitada; era observar e reparar a diversão das crianças, o contentamento da mulher e a satisfação estampada no rosto dele.

_ Que nada, menina! Já estamos acostumados. Precisa de ajuda, não.

_ Mas dá todo mundo dentro do carro junto com as compras, Rivaldo? _ Perguntei-lhe.

Ele me explicou que não tinham carro. Enquanto ele explicava, devo confessar que sentia-me acanhada da atenção que atraíamos.

_ Estamos acostumados _ Reiterou sua esposa.

Segundo eles, ao saírem do supermercado, atravessavam a rua juntos, e ele voltava para buscar, aos poucos, as sacolas de compras. Em seguida, atravessavam a roleta da estação de trem, e após todos acomodarem-se num banco ou ponto de espera da plataforma, ele retornava a buscar as sacolas de onde as deixara. Ao vir o trem, todos se juntavam para entrar ao mesmo tempo, e a primeira providência era contar se todos estavam ali. Isso mesmo: contavam-se em números. Só dava tempo para isto. E com a ajuda, que sempre surgia de outros passageiros era embarcado o restante das sacolas. Desciam na parada final do trem, o que lhes garantia uma relativa tranqüilidade para retirarem-se do vagão junto com as compras. Rivaldo garantiu-me que sua turma toda estava preparada para agirem juntos. Tinha outro jeito não, e ria...

Desisti de ajudá-los e despedi-me deles ali mesmo, no supermercado. Intuí que se tentasse algo para auxiliá-los em sua rotina acabaria por atrapalhá-los. Então compreendi por que, sempre que há alguém necessitando de uma "folga" no trabalho, seja para ir ao médico, para viajar, ou para qual seja o motivo, Rivaldo se prontifica a substituir o empregado ausente trabalhando por horas extras. Percebi que, de fato, ele possui um planejamento familiar e tanto!