ALMOÇO
EM FAMÍLIA
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Ubirajara
Varela
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Domingo de sol, dia claro, nenhuma nuvem no céu. Ótimo dia para um passeio na natureza, freqüentar o clube, sentar-se à sombra de uma árvore para saborear uma cervejinha gelada, despreocupadamente, em boa companhia. No entanto, como era um domingo especial, pois se completavam doze anos da morte de minha avó materna, resolvemos nos reunir para um almoço em família. Cada um ficou de levar um prato: comida mineira bem típica como a matriarca apreciava. O pasto principal ficou para a filha mais velha, que preparou saborosa canjiquinha com costelinha de porco. As outras filhas completaram com tutu, couve e mandioca cozida. Os cônjuges levaram gulodices extras, que foram consumidas de imediato, à medida que nos eram apresentadas. E os netos fizeram bagunça, briguinhas e discussões, o trivial. Passado algum tempo, todos satisfeitos, sugeri um cafezinho. Nesse friozinho gostoso que tem feito nos claros dias de inverno aqui em beagá, nada melhor do que um dedo de prosa com café para dar prosseguimento à reunião. Ali, enquanto uns reclamavam que comeram demais, outros anunciavam regime de emagrecimento para o dia seguinte, um dos netos se lembrou de um dizer de sua querida avó. Comida boa é aquela feita na hora, quentinha e novinha. Pode ser simples, ovo frito com arroz, mas têm que ser feitos na hora. Todos riram e começaram a falar outros ditados, contar casos, lembranças e experiências individuais que vivenciaram com a querida Chiquitinha. Naquele instante, percebi como cada pessoa especial em nossas vidas deixa marquinhas dentro de nós. E deixa pedacinhos da sua vida em todos nós. Espalha-se, volta ao pó, para se unir de novo. Por exemplo, em um almoço de domingo: o tutu, a costelinha, a couve, o arroz, bem dispostos sobre a mesa. Tudo quentinho e novinho, como se nunca os tivéssemos experimentado antes. Arrepiem-se os cabelos ou não, ali ficou claro para mim que ela, minha avó materna, estava sentava à cabeceira da mesa.
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