16 E POUCO...
Nicole Koll
 
 

Temos o rádio rabuscado, no canto do quarto aos pedaços. Os lençóis que não cheiram a sabão, a cama apoiada em livros e a brisa que arrepia o coração. Teu corpo já não conheço tanto quanto o meu. Temos todos os pecados capitais na luxúria da cobiça pela preguiça, na gula pelos gemidos mais assustados, na avareza de pudores e vaidade, na ira contra o tempo e na soberba exuberante dentro do gozo. Nosso molhado inunda o mundo de vida! E não há lugar, na casa que nem é nossa, que seja mais sagrado, animal e verdadeiro que nossa cama. O amanhã nem ainda se dignou a existir, que deixe ele lá pra domingo. Nosso respirar se torna cada vez mais amarelo-sol, cheiroso como ele só! É tudo culpa desse precisamento de entrega cada vez mais, mais sincera, mais aguda (que toma e engole o peito!). Te amo, te adoro, te devoro... Cada dia mais, com dor, com prazer... A angústia de nós dois, nos abre o céu, a vida e a imensa noite.