O
FANTASMA DO ARMÁRIO
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Leo Nunes
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Dificilmente, Aroldo conseguiria sair da situação em que se encontrava. Ao cabo de quatro horas em pé e espremido dentro de um cubículo de armário de duas portas do quarto da amante, o infeliz se é que podemos chamá-lo assim, pois a mulher do vizinho era um monumento de deixar qualquer um na mesma situação o infeliz já não agüentava mais de dor nas pernas, vontade de urinar, fome, sede, calor, náusea e frio, devido estar totalmente nu. Tal conjuntura se dava ao retorno inesperado do corno a uma viagem de negócios em Cuiabá, que por sinal foi muito bem sucedida, o que lhe deixou com imensa alegria e sem sono nenhum, ficando plantado em sua escrivaninha conferindo papel por papel que tirava na pasta. Ao término da conferência, deitou-se para assistir televisão, enquanto a mulher fazia de tudo na intenção de atraí-lo para fora do cômodo. E nada. O chifrudo nem se mexia do lugar. Se pelo menos adormecesse, mas nada disso acontecia. O prisioneiro já não tinha mais força nem concentração para pensar em nada, para tentar bolar uma idéia de escapar daquela com vida. Mas como, com aquele boi em frente o armário? E já pensava no fim, em tudo que vivera de bom até ali, pensava se valeu a pena usufruir o material alheio. O tempo não passava. Noite imensa. Parecia que o sol não iria se pôr nunca mais. Foi quando um raio de idéia surgiu na sua cabeça com a solução para o episódio em que vivenciava. Aloprou. No momento que a compartilhada foi à cozinha tomar um copo de água com açúcar para tentar manter a calma, Aroldo engrossou a voz e como se fosse um fantasma falou: - Coooooooooorno... Coooooooooorno... Já na primeira sílaba que ouviu, o medroso se enfiou em baixo do edredon tremendo dos pés a cabeça, enquanto a assombração repetia em seqüência: - Coooooooooorno... Coooooooooorno...Deixa de ser bobo e vá ver o que sua mulher faz na cozinha...ela está com ooooooutro... essa era a tentativa de afastá-lo do quarto. - Quem é você? dizia o marido aterrorizado com a voz trêmula. - O fantasma do armááááááááário!!! E pela última vez irei alertá-lo: vá verificar onde estar sua mulher. Ele foi, mas não com o intuito de averiguar a informação sobre a esposa, e sim de sumir diante daquele terror que passava. Nesse momento, ao fim de três passos, o aventureiro já tinha pulado a janela e estava correndo pela rua, nu, mais do que velocista na prova dos cem metros. Indubitavelmente, foi a noite mais longa da vida dele. E o Aroldo? Encontrei-o há duas semanas num boteco em Benfica. Tinha o braço esquerdo engessado, sete pontos no supercílio e o olho esquerdo completamente roxo. Pelo visto, o último marido traído não acreditou no fantasma do armário. |