NOITE
IMENSA
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Daniela
Fernanda
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Noite de sábado, lua cheia. Dois graus no termômetro, noite propícia para o amor. Mas ela estava sem companhia, sem ânimo algum, tampouco tinha disposição para as baladas, por isso ficou em casa quietinha assistindo os ponteiros do relógio marcharem lentamente. De repente pensou no computador, máquina genial que conecta os solitários ao mundo inteiro. Arriscou o msn, e nada, seus amigos não estavam por lá. Provavelmente haviam sido mais corajosos que ela naquela noite gelada e por certo se divertiam, aquelas alturas da madrugada, em alguma mesa de bar ou até mesmo de bilhar. Então buscou o velho google, digitou bate papo e clicou no primeiro link que a tela colorida lhe ofereceu. Surgiram diante dela várias possibilidades e ela elegeu a sala da metrópole mais próxima a sua pequena cidade. Analisou os nicks insanos da barra e em meio a tantos alienígenas, localizou um ou dois que considerou normais. Teclou com um homem de nick "máximos", que disse estar procurando uma namorada. Também se dizia tímido, e falava da dificuldade atual de se encontrar uma companheira quando um bom nível acadêmico não está tão presente na vida masculina. Ela sabia que ele tinha razão, pois havia se formado na semana anterior, e pouco, ou nada, lhe interessavam homens de pouca cultura intelectual. Vários internautas tentaram conquistar sua atenção naquela noite. Os pelado cam, coisa comum naquele tipo de sala, os sinceros, carentes, sozinhos, p...duro e toda a sorte de apelidos apelativos. Cansada e insatisfeita, mudou de sala. Clicou em idade, escolheu a sua faixa etária...e lá estava ele...professor como ela. Teclaram um pouco na sala e logo foram para o msn. Ela: Ele:
(visualizando a foto dela) Ela: Ele: E
por aí se desenrolou o assunto. O relógio marcava 2:15
da madrugada. Lá pelas 5:00 horas, ele diz: Ela
não teve dúvidas, aceitou imediatamente a proposta, e
os então namorados seguiram o papo até as 7:30. Foi só
então nesse horário, que ela disse: Ele concordou e apenas pediu-lhe que sonhasse com ele. Os raios de sol daquela manhã teimavam em invadir seu quarto e a sombra de uma árvore, desenhou em sua cama uma silhueta quase humana. Deitou-se sorrindo, pois parecia que aquele homem, de alguma forma, a qual ela ainda não compreendia, fazia questão de entrar na sua vida. Por
volta das 17:00 horas, ela voltou ao computador e lá estava ele.
Pareceu-lhe que esperava por ela. Sem pestanejar digitou: E
em milésimos de segundo veio a resposta. E aquela tarde, e a noite, e a manhã do outro dia, em hipótese alguma lhes pareciam um novo dia. Todos os momentos que estiveram "juntos" dali em diante se caracterizavam na continuação infindável daquela primeira noite. A noite atravessou o primeiro mês tranqüilamente, mas ao despertar do segundo o desejo de conhecerem-se pessoalmente ultrapassava a dimensão do virtual. Foi no aeroporto que o primeiro beijo aconteceu, mas foi no mesmo local que a primeira lágrima de despedida ocorreu. Seis meses se passaram até que ambos compreendessem que o dia, e toda a clareza que ele traz, tinha mesmo que amanhecer. E foi apenas isso o que aconteceu. Sem pedir permissão, ele amanheceu. Atualmente nas noites enluaradas de sábado, especialmente nas frias, ela olha para o computador, finge que não o vê e liga a televisão esperando o sono chegar. |