VISITA DE ISADORA
Clarice Villac
 
 

"Se eu pudesse explicar o que as coisas significam,
não teria a necessidade de dançá-las."
- Isadora Duncan

Fim de sábado cinza. Majestoso, o Theatro Municipal centraliza as emoções. Hoje tem balé. Burburinho nos camarins, espelhos movimentados.

cai a tarde fria
os pássaros se recolhem
vôos apressados

Estacionam carros, ônibus intermunicipais, público afluente. Escadarias coloridas, ondulam trajes apurados.

nesse lusco-fusco
vão se acendendo os postes
lembranças antigas

No saguão, reencontros, novidades, frisson. Entalhes, dourados, mármores, apuro e beleza. Perfumes, vozes animadas, risadas educadas.

lá fora na praça
fogareiro improvisado
reúne mendigos

O salão se enche, abrem-se as cortinas, e quanta maravilha! Ágil delicadeza, bailarinos entusiasmam recriando a herança musical deste ocidente.

em meio à neblina
conversas sobre o passado
e a sopa rala

No segundo ato, celebra-se a liberdade, pés descalços, movimentos de palmeiras, túnicas leves, esvoaçam os inconscientes. Ventos e vagas.

olhares surpresos
súbito brilho no céu
brotam os sorrisos

pisca a noite imensa
no rodopio do vento
escuto o Saci