CONVIVENDO COM A SAUDADE
Valéria Vanda de Xavier Nunes
 
 

São três horas da tarde de uma quarta-feira. O mês é Janeiro. Estou sozinha em casa. Ficar sozinha, nos dia atuais, é uma constante em minha vida. Ficar sozinha ou em companhia do meu marido.

Mais uma filha se foi. A situação se repete, e a velha máxima: “Criamos o filhos para o mundo” também. O pior é que não sou uma mãe moderna, sou uma mãe das “antigas”; daquelas que só se sentem felizes com os filhos ao seu redor, não me acostumo com a idéia de ficar sem elas, porém, a necessidade de procurar caminhos novos e a perspectiva de melhores oportunidades para se estabelecerem na vida, leva os nossos filhos para longe de nós. A saída dela de casa foi para nós, sua família, motivo de profunda tristeza e saudade. O nosso coração e nossa alma estavam como um céu deserto de estrelas.

Jamais vou esquecer as horas que precederam a da sua partida em um vôo que sairia às quatro horas da manhã. Pode haver uma hora mais imprópria e triste para a partida de uma filha? Não... não pode. Quatro horas da manhã! E naquela madrugada o céu estava realmente deserto de estrelas, parecia que estava se solidarizando também com a nossa dor, o céu também estava triste como nós.

Desde as primeiras horas daquele dia, meu coração já estava apertado no peito como se estivesse sendo transpassado por uma faca afiada. Por mais que me fizesse de forte, a tristeza e amargura insistiam em acercar-se de mim, permanecendo comigo durante todo aquele dia e aquela noite.

Naquela noite, nenhum de nós dormiu. Ficamos todos alerta para não haver a possibilidade dela perder o seu vôo. Ficamos a arrumar sua bagagem, a ultimar os preparativos para a sua viagem. Perdi a conta de quantas vezes desci aquelas escadas do seu quarto até o meu, engolindo o choro; prendendo no peito o pranto para não desabar na sua frente, tudo para não demonstrar fraqueza; para me mostrar forte a fim de que ela não se sentisse fraca; não viajasse triste; não chorasse também, tudo para que ela não percebesse a dor da minha saudade.

Tudo em vão! Como me arrependo de não tê-la apertado nos meus braços, de não ter chorado abertamente todo o meu pranto e mostrado toda a minha tristeza pela sua partida. Como me arrependo de não termos conversado mais, nos abraçado mais, nos beijado mais, como me arrependo de não ter demonstrado com palavras todo o amor que trago dentro do meu coração partido de saudade. Como gostaria de ter dito que já estava com saudades antes mesmo de sua partida, que eu ia sempre rezar por ela e que não ia esquecê-la por nenhum minuto de cada dia que ela estivesse longe de nós, que eu ia morrer de preocupação pensando nela sozinha, sem seus pais para protegê-la das adversidades da vida. Pois é! Agora, aqui sozinha, eu seria capaz de qualquer sacrifício para tê-la de novo nos meus braços, ouvir a sua voz, a sua risada gostosa, os seus gritos de raiva, suas brigas com a irmã; mas, agora é tarde, e só me resta ter forças, para poder dar força a ela, para que ela possa continuar escrevendo a sua própria história, tentando crescer como pessoa e como profissional.

Impossível esquecer os últimos minutos no aeroporto, minutos que nos separariam dela até sabe Deus o dia em que tornaríamos a revê-la. Como esquecê-la com aquelas duas malas nas mãos e uma pendurada nas costas, se despedindo de nós - seus pais, sua irmã e cunhado - sentindo nossas lágrimas escorrendo pelos nossos olhos e molhando nossos rostos. Como esquecer a sua caminhada até o avião, e nós todos lá em cima aos prantos e com os corações partidos de saudades.

Só nos resta agora agüentar a saudade e rezar, rezar muito, entregá-la nas mãos de Deus, pedir que ele a proteja e guie sempre os seus passos, a fim de que ela possa conseguir realizar todos os seus projetos de vida.

Enfim, a vida é assim. E mesmo que eu não aceite a máxima “Criamos os filhos para o mundo”, tenho que admitir que é verdadeira, e o jeito é darmos condições aos nossos filhos para que eles possam criar as suas próprias asas e ajudá-los a voar o mais alto que puderem. È isso Juli, Que Deus te ilumine e guie sempre os teus passos, mas também nos dê forças para suportar os dias de saudades que certamente virão.