A
FLOR DO MANDACARU
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Tieme
Mise
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A terra gretada exalou um odor seco sob os pés calosos de Josefa, revestidos em sua sola por uma camada espessa e mais resistente, curtida e protetora. O
olhar da sertaneja, viçoso nos seus 16 anos, vasculhou o horizonte
em busca da brancura esperançosa de uma nuvem. O céu deserto
mostrava somente o seu azul ofuscante. O
calor fazia gotas em sua face. O olho direito ardeu e se fechou quando
uma delas escorregou, mergulhando na íris de uma cor imprecisa,
de um marrom esverdeado. Era
penosa a travessia pelo agreste sertanejo, mas precisava chegar à
casa do tio antes que o breu da noite roubasse o sol. Um
cacto aqui e acolá, numa grama esturricada, mostrava a sua resistência. Apressou
o passo, ajeitando na cabeça o lenço puído sobre
os cabelos rebeldes. O vento parecia estar dormindo. Mais
uma cutucada no ventre que se arredondava. Pensou na cara de safado
espanto que Isac faria ao saber da novidade e colocou na boca um pedacinho
de rapadura comprada no dia anterior. Fechou os olhos sentindo o sabor
do doce da cana se dissolvendo na saliva. Olhou
para o céu deserto, para o solo hostil e suspirou. Um mandacaru
solitário exibia orgulhosamente seu fruto vermelho mostrando
a força da resistência. Uma
brisa morna anunciou o despertar do vento. No céu, faixas brancas
iam colorindo o deserto azul, trazendo a esperança. A
tarde avançava quando avistou o teto avermelhado da casa do tio
com um verde meio tímido colorindo a paisagem. Sentiu outra cutucada e sorriu, pois trazia em seu ventre a flor do mandacaru! |
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