TARDE
DE SETEMBRO
|
||
Juraci
de Oliveira Chaves
|
||
Tarde
de setembro, de chuva temporona, cheia de granizo, de vento e suspenses.
Trovão e tempestade. Queria vida sem complicações,
sem pesadelos e dores. Não gostaria de se envolver novamente
com aventuras tontas, de grandes conseqüências, nem de pequenas. Acordara
com a ventania e percebeu que estava escuro e cinzento o tempo. céu
deserto de estrelas. Acendeu a luz meio receosa. Tentou ler um livro
para disfarçar só que as letras ficaram embaralhadas e
fugia-lhe a palavra. Não conseguia se concentrar. Colocou no
aparelho um CD para ouvir um pouco de música, o que fez com que
ficasse ainda mais triste e se enchesse de melancolia. Molha os olhos
num pranto ardente sem certezas, sem caminhos, Horas paradas ali sem
movimento, só a acompanhar o percurso da chuva que inunda a janela,
molha seus pensamentos. No silêncio da noite o tempo custava mais
a passar. Seus olhos abertos fugiam do sono, evitando a morte que sempre
chegava nos sonhos. Virou a cabeça na direção do
relógio, uma e dez, começo da madrugada. Parecia esperar
por alguém. Repentinamente uma porta se abriu fazendo barulho,
ela observa uma claridade no quarto do apartamento a lado. A janela
escancarada, sempre aberta. Foi inevitável o meu olhar, ele estava
lá invejando as gotículas da chuva e a todas as mulheres. Sempre
chegava ao romper da aurora com o mesmo ritual. Tão logo entrava
desabotoava tudo afrouxava a gravata com movimentos lentos e debruçava
sobre a janela. A fumaça do seu cigarro rabiscava o ar quase
sonolento também. Não percebia os olhos atrás da
cortina a engolir aquela silhueta perfeita. Os pingos frios de chuva
rala acariciavam sua pele fazendo inveja e arrepios na outra pele. Descalça
e nua ela se contorcia atrás da cortina entre os seus cristais
solitários. Aquilo estava sendo um martírio e precisava
acabar com esse momento infernal. Logo que ele se afastou ela ofegante
ocupou o parapeito gelado da janela. Observou aquele belo corpo deitado
com tudo à mostra. O pênis endurecido, rígido fazia
um movimento, vamos dizer, pulsatório. Vez outra, em riste, acariciava
o ventre que o abrigava. Descansava por alguns segundos e retornava
a posição de descortinar virgens. Aquelas coxas malhadas
e sadias estendidas sobre o lençol era um convite meio louco.
Yanka
voltou para a cama e observou que estava pronta, a vulva em fogo, molhada
e endurecida, o coração inflado de desejo batia pelo paraíso
que vira do outro lado, muito perto e ao mesmo tempo, distante. Começou então o ritual. Ritual que não aconteceu, nada aconteceu. Talvez na próxima aurora. |
||