Então, tu não sabe?

Não é novidade, tu nunca sabe de nada, sujeito. Mas eu te explico, eu explico porque uma hora dessa, e tu sabe ao menos isso, tua hora já tá por aí, ela vai chegar, ela sempre chega, não se iluda, companheiro. Aí, tu vai necessitar de um tratamento, de uma ajuda, de repente vão recomendar aquela pílula azulzinha que se tu tomar, meu caro, tu já pode comprar tua bengala branca, sabia? É sim, tão dizendo por aí que o homem se agarra na pílula, acostuma e depois não quer parar, então a vista fica meio apagada, vai apagando e, quando o cabra se dá conta: breu completo!!!

Comigo, não, jacaré.

Eu tô de mala pronta. Vou-me embora p’ra Brasília, meu chapa.

Por que Brasília, ô ignorante? Tu não ficou sabendo da tese do professor-doutor, não? Pois eu li, cabra, li de cabo a rabo. O nome da tal tese é meio insidioso, mas o que importa é o recheio. “O Vuco-Vuco de Roldão - Da Influência da Aridez Afrodisíaca sobre A Dança dos Hormônios e o Apetite Sexual em Brasília”, é isso, eu li, eu comi a tese, meu amigo. Ah, sexual tu entende, né? Pois bem.

É o seguinte. Tu tá lembrado do caso da jornalista com o presidente do senado, não é? Porque a gente conversou sobre isso, ficamos lá no Bar do Rosendo vendo o cabra falar na tv e pedir perdão p’ra mulher, a testa suada, a esposa com cara de misericórdia, tu lembra disso. Até o Josino Boca Mole falou que estava admirado de uma jornalista moça e bonitona ter se engraçado logo com um sujeito sem sal como o Renan Calheiros e patati-patatá, que devia haver homens mais interessantes, etc. Houve mesmo, pelo que se soube depois, incluindo aí o bonitão filho de ACM, já falecido, cala-te boca. Até ACM fez piada, disse que não ia comentar nada porque ele e a jornalista já tinham sido ‘parentes’ – o baiano é um pândego, debochadíssimo. Eu acho que ele tirou foi o boi do sereno, porque ele mesmo, ACM em pessoa, já teve lá seu vuco-vuco de roldão e não foi nada mole, capa da Veja e tudo, ainda mais para um idoso setentão, é mole?

O que é o vuco-vuco de roldão?

Então, é assim. Na tese, o professor diz que em Brasília existe alguma coisa no ar, sob aquele céu deserto de nuvens, uma espécie quem sabe de deus cadango das pegadas, pegada homem-mulher, me entende? Mas pegadas fortíssimas, tão fortes que seus efeitos permanecem no ar por muitos anos e vão atacando todo mundo, dando mais preferência pelos velhotes porque esse pessoal não se toca, acha que já passou seu tempo, então ocorre o descuido, cabra. É nessa hora, quando o cabra está ali, sossegado, só ouvindo umas valsas, os pés nas chinelas e o pijama displicente, que o vuco-vuco ataca, prende o cabra na rede, deixa o cabra em ponto de bala e ele tem uma febre do tipo terçã, quase uma meningite erótico-sexual, aí é o deus-nos-acuda, o sai de baixo, a hecatombe! Também disse o professor que isso pode ter relação com aquelas flores secas, tu manja aquele arranjo que o Tinoco trouxe de Brasília p’ra Dorô, né não? Pois aquela flor é da peste, ela aguça o vuco-vuco na velharada, meu caro.

Então tu tá por ali, só vendo a asa tal, a quadra xis, só admirando a catedral do Niemeyer e, quando dá por si, tá feito o estrago, tu rolando no chão com a primeira que aparece, aquela sofreguidão, o vulcão de dentro p’ra fora, o ai Jesus, valei-me São Benedito! E quem tem cabeça p’ra camisinha nessas horas, cabra, quem? Nem Renan nem nós. Pois é. Então tem vez que o vuco-vuco dá rebento, visto que as moças ficam apaixonadas demais pela atuação inebriante dos cabras e elas também não têm cabeça p’ra mais nada, se entregam sem juízo nenhum, babam de amor, meu caro. Dizem até que muitas delas depois ficam procurando cabelo em ovo para detectar como foi que se deu a falta de controle, mas aí, nada mais resta senão aceitar a pensão, são os azares do vuco-vuco, fazer o quê? Dona Verônica diz outra coisa, p’ra ela, ‘homem é besta mesmo’, mas a opinião dela é meio tendenciosa...

Como assim, não está entendendo?!

Tu deixa de ser burro, cabra. Eu tô dizendo que, em Brasília, o cabra queira ou não queira, a coisa rola. Ou seja, para um cidadão já meio desanimado da vida é tudo de bom! Eu, que já tô na marca do 6.1, não vou ficar aqui esperando a banda passar, tô me mandando já e já. Se tu quiser, fique aí, pasmado, aguardando a azulzinha escurecer as suas vistas, eu quero é balançar o meu esqueleto. Vô lá, vô arrumar umas moças muito das belas, vô viver o meu vuco-vuco sem reclamar de nada, eu quero é mais!

E olhe que o professor garantiu que esse negócio já existia mesmo no tempo da fundação de Brasília, parece que muito operário morreu lá por conta disso, só que ainda não existia o estudo, as pessoas pensavam que era safadeza, mas é ciência. JK, coitado, foi uma das primeiras vítimas desse ‘aspecto candango libidinoso’, como disse o cabra da tese. E tantos depois dele – lembra do Palocci, aquela coisa da República de Ribeirão Preto, a tal Jeany Mary, caraca, aquilo deve ter sido um vuco-vucão! Nem dá p’ra fazer a lista, muitos vivem na moita porque as esposas não são tão afáveis como a do Renan, de modo que há uma união de forças para evitar barulho familiar, tu viu os tapinhas nas costas do presidente do senado, ali é cada qual com sua Mônica, eu aposto, tu me entende que eu sei.

Tu lembra do tempo do vuco-vuco adolescente? É isso que acontece em Brasília, cabra, eu vou me esbaldar, e para fazer a viagem compensar dobrado, tô pensando em me candidatar, o que tu acha? Porque também tem outro detalhe: o vuco-vuco da gota mesmo ataca mais os políticos, disse o professor, por causa de um tal decoro, falta de couro, sei lá...