A
PRIMEIRA VEZ
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Tatiana
Alves
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Para tudo há uma primeira vez. E, no caso das mulheres, geralmente dolorosa. De menstruações a partos, os rituais que envolvem a condição feminina são, muitas vezes, assustadores e sofridos. E com ela não seria diferente. Sabia que isso constituía o preço a ser pago pelo ingresso da mulher na vida adulta. Morria de medo só de pensar na dor, mas todas as amigas já tinham passado por aquilo, e ela não queria ficar para trás. Uma lhe tinha dito que sim, realmente doía muito, mas depois valia a pena. Outra disse que nem tinha sentido dor, mas ela particularmente não acreditava nisso. Visualizara mentalmente toda a experiência, pesara prós e contras, e decidira que não iria ficar esperando hora e momento certos. Era agora, ou nunca. Como algo que ela achava tão bonito poderia infligir tanta dor? Prometera à mãe que não faria enquanto não se sentisse pronta, mas as amigas a vinham pressionando, e ela já estava começando a ficar incomodada com aquela situação. E todas, sem exceção, ficaram muito mais bonitas depois. -Já
decidi. Quero que seja hoje. -Você
tem certeza? Não vai se arrepender depois? -Não.
E vamos logo, antes que eu perca a coragem... -Não
vai doer, eu prometo. a voz do rapaz era quase doce, ao tentar
acalmá-la. -Você
promete que vai devagar? os olhos da menina não escondiam
seu desespero. -Nesse
tipo de coisa, não dá para ir devagar. É rápido,
mas passa logo. -Ai,
meu Deus!... Posso ficar de olhos fechados? -Claro
que pode. -Vai
demorar muito? -Calma
que eu tenho que ter cuidado. Não quero que você pegue
uma doença. Isso aqui não é brincadeira, não. -Tá, vai logo, por favor. E então ela sentiu a dor mais intensa que já havia experimentado ao longo dos seus quinze anos. Uma dor contundente, absurda, uma sensação de estar sendo invadida, mas por um ato que a colocaria definitivamente em pé de igualdade com as amigas. -A
outra, agora... -Hã?
sentia que algo nela latejava, mas sobrevivera. -A
outra orelha, menina. Ou vai querer ficar só com uma furada?
o rapaz na farmácia começava a perder a paciência. -Ah, tá, moço. Peraí só um pouquinho, pra eu poder respirar... |