A
PRIMEIRA VEZ DE UMA ASSASSINA
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Ken
Scofield
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O som das águas do mar era constante, o calor escaldante também, acompanhado de uma bela vista que premiava a quem estivesse por ali por perto. A vista ficava mais bonita quando se combinava com a imagem de uma bela menina de olhos atentos a todos os acontecimentos à sua volta, usava laços vermelhos na cabeça. Comum era a doce impressão causada a todos aqueles que a viam sentada, escrevendo ou desenhando na areia. Isso porque não podiam vê-la por dentro. Ana
Amélia tinha passado as festas de fim de ano como todas as
outras, exceto alguns acontecimentos que martelavam em sua cabeça.
O verbo matar ecoava forte na sua mente, ligada a idéia de
experimentar, de tentar compreender. Nunca tinha parado para pensar
o porque do homem ter o privilégio de poder matar
outros animais. Alguns
dias antes ia vivendo como uma criança normal de onze anos,
tinha amigos, estudava, e alegrava sua família. Sua melhor
amiga, Roberta, era um doce de criança, costumavam brincar
muito juntas. Adoravam inventar estórias com suas bonecas,
de modo que reproduzissem seus desejos, sonhos, misturando sempre
muito de fantasioso, como é normal quando se trata de frutos
da imaginação de duas crianças. As
histórias de Ana Amélia começavam a mudar, pois
ela sempre estava arranjando uma maneira de que uma de suas bonecas
morressem de modo inesperado. Roberta sempre reclamava que o final
devia ser feliz, agradando assim a todos. Discutiam muito sobre isso,
além de Roberta repetir mais de uma vez o seus recentes pensamentos
sobre tudo isso: começava a temer sua amiga, pois notava o
quanto ela mudava de expressão quando representava a cena da
morte de uma de suas bonecas. Depois
de muito Roberta reclamar, Ana Amélia prometia não mais
imaginar mortes de suas queridas bonecas. E por umas duas semanas
cumpriu o trato, deixando sua amiga mais tranquila, e por muito pouco
tempo tudo continuaria assim. Roberta
tinha um amável gato, o qual morria de paixão e não
a desgrudava um minuto, fazendo assim que a brincadeira fosse na maioria
das vezes a três. Ana Amélia odiava animais de estimação,
e particularmente esse gato que lhe roubava a atenção
de sua amiga. Roberta começava a estranhar que seu gato não
tinha sorte: ou estava indisposto e fraco ou sempre se machucava por
acidente em algum lugar, e nunca notava como. Até
que um dia viu uma cena que a deixou muito surpresa: Ana Amélia
acariciava com toda força o peito de seu gato com
os pés, provocando gemidos do pobre felino. Surpreendida, Ana
Amélia dizia que sempre fazia aquilo e o pequeno animal gostava.
Roberta tinha um jeito especial de armazenar as idéias em sua
cabeça, simulando acreditar no relato de sua amiga. Ana Amélia
então sugeriu que sua amiga se preocupasse mais com o mundo
à sua volta que com seu gato. Ana
Amélia era uma menina muito interessada no que acontecia, assistia
televisão, lia jornais, sempre tentando estar bem informada,
resultando em uma criança inteligentíssima e muito mais
integrada ao mundo que todas as suas amigas. E foi lendo que conheceu
a primeira pessoa que realmente poderia dizer-se um ídolo para
ela. A notícia trazia a seguinte manchete: Mais uma vítima
da Raposa Negra. Raposa Negra era como estavam chamando uma assassina
que nunca era pega, e que diziam, sempre vestia-se de
roupa preta quando matava alguém. Sua leitura acabava de desagradavelmente
ser interrompida. Era
Roberta mostrando seu gato que estava com um pedaço de sua
pata ferida, e então a acusava de uma maneira incisiva, como
se tivesse toda a certeza da culpa de sua amiga pelo ferimento repentino
de seu companheiro. Ana Amélia, pensou muito antes de falar.
Parecia na verdade como se estivesse vendo um lindo quadro e se maravilhando
com ele. Imaginava uma cena até então inédita
em sua cabeça, uma cena que infelizmente, para Roberta, aconteceria
momentos depois Ana
Amélia então convenceu sua amiga que o gato teria se
machucado e que provaria a ela como, caso as duas fossem à
varanda vislumbrar a bela paisagem daquele quente dia de sol. Costumavam
descansar de suas brincadeiras ali, ambas observando obcecadamente
como era belo o poder de certos seres voadores. Tão pequenos,
mas voadores... E foi depois que Roberta sussurou isso, que para a
sua própria surpresa, Ana Amélia jogava sua amiga varanda
abaixo e em seguida repetia muitas vezes a frase de sua amiga, seguida
de um choro que era formado de um misto de alegria e falsidade, pois
teria que se preparar para explicar o acontecido. E tudo terminou
como um triste acidente: Roberta havia caído após
tentar salvar seu amado felino que estava passeando pelo lado externo
do para-peito da varanda, essa foi a versão mais provável
do acontecido para os outros. |
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