Relacionamos a Primeira Vez geralmente ao intricado ritual da iniciação na vida sexual. No entanto, para praticamente todas as atividades normais de uma vida humana típica existe algum tipo de primeira vez.

Ninguém se recorda, por motivos óbvios, da primeira vez em que atacou os seios maternos em busca do sustento físico. Mas a mãe, desde que zelosa, com certeza guarda este momento nos arquivos iluminados de sua memória. Dos nossos primeiros passos os pais também devem se recordar, bem como de nossas primeiras e relutantes palavras.

Tenho muitos momentos de Primeira Vez registrados nos arquivos da mente. Recordo-me da minha primeira paixão: uma loirinha do interior de São Paulo, cidade de São José do Rio Preto. Tinha ela os olhos azuis, claros como o céu em dia com escassez de nuvens. Os cabelos eram loiros como a palha. Os parentes ajudaram na aproximação. Foi a primeira a me dar um abraço, a andar de mãos dadas e a me dar um beijo na boca. Não sei se o beijo foi gostoso, com certeza, depois, tive outros muito melhores. Mas foi o primeiro e isso ficou registrado para sempre.

Bate-me na lembrança a primeira vez em que entrei na escola. Ainda um tanto tarde, mas com grande voracidade em buscar o entendimento das letras. Aluno aplicado sendo, não esqueço o meu primeiro boletim repleto com nota a dez reluzindo de alto a baixo.

Também recordo da Primeira Vez em que briguei na escola e encarei a Diretora tendo que, a contragosto, dar um abraço no meu desafeto. E como esquecer a Primeira Vez em que estive diante de um Padre no confessionário querendo eu esclarecer dúvidas a respeito da criação, dos milagres de Jesus, da natureza sofredora do homem? Adentrei no teatro da escola improvisado para receber o sacerdote. Ele, um homem idoso e gordo, transpirava por todos os poros. Eu esperava receber a minha primeira revelação espiritual, mas o que saiu da boca do representante do Vaticano fez com que eu tremesse da cabeça aos pés:

- Que uso você faz do seu P****?

- Como é? Era isso mesmo. O Padre queria saber se eu já tinha vida sexual, isso aos oito anos!

Descobri então que a Primeira Vez, a Primeira Vez de fato, é de legítimo interesse da Santa Madre Igreja. E isso, infelizmente, não poderei revelar aos senhores: é segredo de confessionário!