ÎAKARÊ
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William
Stutz
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Îakarê,
Îakarê Bicho preguiçoso aquele, passava os dias ao sol vendo nuvens passar lentas e modorrentas. Bocarra aberta como a engolir os ventos da mata, deixava displicente alguns pássaros palitarem seus dentes, vida dura. Não chegava a lembrar os seus primos gigantes do Nilo mas se dava ao respeito, era criada, impunha. Fêmea imensa, sem ninho nem parceiro. Fome? Bastava um mergulho breve em seu lago para rapidamente encontrar suculentas caranhas ou jaús obesos de tamanha fartura. Poucos se aventuravam a lhe fazer companhia, apesar da preguiça era de um mau humor extremo, não gostava de prosa. O lago, sua morada não era grande, dava para o gasto e para preguiça, tinha sido formado depois da temporada das águas e, um dia sem perceber tinha nadado canal acima e lá se fixou. Como por aquelas bandas as águas descem na mesma rapidez de sobem, ficou lá presa. Não foi por falta de aviso e sinais, assim que começou a seca pássaros e peixes abandonavam o recanto. Os peixes menores esgueiravam-se pelo ainda volumoso sangradouro e ganhavam novamente o gigantesco e caudaloso rio com seu infinito de água e distância . Com o passar dos dias alguns pequenos já tinham que se debater em lama grossa para sair da armadilha do agora poço. Bem que ela queria migrar de volta para as águas frias do rio, mas a preguiça deixava? Lerda e lenta deixava-se ficar na certeza que as águas voltariam e assim a vida seguiria devagar e mansa. Qual nada, logo os graúdos repastos foram escasseando e as águas agora mal davam para esconder sua imensa cauda. Agonizava abandonada à própria sorte. Algum alívio ainda lhe vinha à noite, o frescor da mata, pouco nessa época orvalhada, era um acalanto para seu couro ressequido, castigado pelo calor abrasador do dia. Curtas noites. Logo o sol retomava torturante e aos poucos, definhada e fraca entregou os pontos, vítima da falsa abundância, de sua voluntária solidão, fechou definitivamente os olhos, virando banquete para as feras. Sobraram alvos ossos, escultura da morte. Jacaré,
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