Marina foi a loja de calçados comprar os sapatos que tanto desejou.
Era uma mulher vaidosa, aparentemente forte e independente. Tinha em
sua vida profissional o princípio de tudo, e se presenteava com
pequenos mimos quando desejava se sentir melhor. O mimo da vez era um
par de sapatos de couro de crocodilo. Ainda na loja, Marina colocou
os sapatos para ver se realmente concluía a compra. O verde amarronzado
brilhante e cheio de estilo do par de sapatos, a fez pensar em questões
filosóficas descabidas naquele momento. Réptil de
grande porte que vive nas águas doces e se transformou em um
par de sapatos?. Lembrou-se que naquela tarde, negociava um grande
e lucrativo contrato, fruto da vitória sobre um concorrente irritante,
que a fez trabalhar dia e noite pensando em soluções criativas
para ganhar a disputa. Com a lembrança destes dias passados,
se olhou no espelho da loja. Marina se fez crocodilo, crocodilo se fez
Marina. Viu-se com olhos famintos, sedentos. Seu corpo comprido, pesado,
suas unhas longas e firmes. Marina venceu, matou sua fome! Saiu da loja
com a sacola de grife, sem a mesma satisfação que sentia
a minutos atrás. Marina seria reduzida agora a um par de sapatos?
Pensou no depois, do depois e o depois? Sentia-se vazia, nas margens
do lago lamacento, agora a vitima. Marina não tinha depois, Marina
era uma predadora e nada mais!
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