A
BOLSA DE CROCODILO
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Patrícia da Fonseca
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Alexandra vinha caminhando pela rua, despreocupadamente. Era meio dia, hora do almoço, mal tinha dinheiro para comer um sanduíche. Atolada de dívidas que estava, nem se preocupava mais com o fato de dever para mais da metade da cidade. Roberto, o marido, num surto psicótico, tinha quebrado dois cartões de crédito de Alexandra. Ela quase pediu separação. Mas aonde iria morar devendo até o último fio de cabelo? Menos mal que o Roberto abraçara metade das suas contas atrasadas. De
longe ela viu a bolsa. Parecia que ela brilhava, que lhe chamava, que
implorava que a comprasse. Alexandra atravessou a rua correndo em cima
dos suas sandálias de salto alto não pagas
douradas. Em cinco segundos, estava em frente à vitrina. Que
bolsa
ela suspirou. Parecia uma criança pobre na frente
da loja de doces. Que bolsa! Linda, cheia de estilo, a cara dela. Alexandra
não suportou. Entrou na loja confiante. A vendedora se aproximou
e ela apontou direto, decidida, para o seu objeto de desejo: A
vendedora imediatamente apresentou a bolsa para Alexandra. Era linda,
realmente. No seu trabalho, nenhuma das suas colegas possuía
algo parecido. Alexandra lembrou que tinha um talão de cheques
dentro da carteira. Que mal teria mais um cheque sem fundo voando pela
praça? Depois, estava de aniversário dali a um mês
e o Roberto poderia fazer o favor de pagar. Ali mesmo na loja, Alexandra tirou todas as suas coisas da antiga bolsa e passou para a nova, saindo para a rua ostentando sua nova aquisição. Sentia-se a mulher mais importante do mundo com sua bolsa de crocodilo à tiracolo. No trabalho, as colegas morreram de inveja. Algumas perguntaram o preço. Alexandra aumentou o valor para que elas a invejassem ainda mais. De noite, quando chegou em casa, esqueceu a bolsa em cima da mesa. Não queria que Roberto a visse ainda. Certamente haveria algum conflito, mesmo que fosse ele o escolhido para cobrir o cheque voador. Mal
Alexandra saiu do chuveiro enrolada na toalha e deu de cara com o marido,
segurando a bolsa pela alça, com uma expressão de incredulidade: Ela
empalideceu. Roberto estava furioso! Segurava a sua preciosa bolsa como
se ela fosse um bolsinha qualquer de R$ 1,99. Alexandra
ficou mais pálida ainda. Roberto mantinha a bolsa de crocodilo
pendurada perigosamente em cima do vaso sanitário. Uma palavra
em falso e a bolsa cairia ali dentro. Bolsa horrível! Que insensível! -
Mas eu não tenho um mísero real dentro da bolsa. E eu
paguei com um cheque voador! E agora? |