A GRANDE BOBAGEM
Maria Cláudia Gaiannes
 
 

Bem no meio da grande cidade há um zoológico muito rico em espécies de animais, presos e visitantes. Os animais que estão presos são muito bem alimentados, estão sempre com seus pares e possuem em relação aos animais visitantes apenas uma coisa em comum: O desejo de escapar!

Porém, esse objetivo é tão inacessível para ambos que, mesmo quando alguém esquece uma porta aberta, demoram tanto a perceber que alguém vem e a fecha.

Mas vamos aos fatos, vamos à narrativa dos acontecimentos insólitos dos quais esse pequeno conto se alimenta, e só através deles se justifica.

Uma família passeava no rico zoológico, um pai, uma mãe e uma linda menininha de cabelos cacheados. Todos os animais presos causavam fascinação a pequena e linda menininha, porém quando ela parou diante do cercado dos crocodilos, um cercado muito bem feito que em seu interior simulava perfeitamente o ambiente selvagem, ela quase petrificou de medo e olhando fixamente para um grande réptil que estava bem perto e que parecia também olhar fixamente para ela, perguntou a seu pai:

— Papai é verdade que são eles que engolem o sol pra fazer chegar a noite?

— Ora minha filha não seja tola? Onde você ouviu tamanha bobagem? Aposto que foi na escola, eles ficam ensinando essas bobagens de lendas, folclore, cultura, vocês deveriam aprender mais é matemática, que é o que vai te fazer falta um dia.

A menininha de cabelos cacheados continuava a olhar fixa para o bicho e o seu pai, empolgado por si mesmo, resolveu continuar a falar:

— E tem mais minha filha, esses bichos aí não comem nem o sol, nem a lua, nem a galinha da vizinha, eles só comem essa carne morta que os tratadores jogam pra eles, e sabe quem paga essa carne? Sou eu, contribuinte de impostos, que trabalho como um condenado pra esses bichos ficarem aí tomando sol com a barriga cheia! Bichos inúteis!!!

Ao esbravejar essa última frase, pois o homem não se continha e achava o seu discurso valoroso, ele debruçou-se sobre a grade do cercado dos crocodilos, ignorando a placa que dizia “não debruce sobre a grade” e sem que tivesse tempo para se arrepender de suas bobagens, teve sua cabeça arrancada pelo majestoso réptil, que com a cabeça arrancada entre os dentes, voltou a olhar fixamente para a linda menininha.

Horror! Horror! Fotos do corpo decepado apareceram pelos jornais e internet. A mulher do corpo, mãe da menininha, enlouqueceu (ela sempre soube que poderia enlouquecer, só esperava um motivo). A linda menininha de cabelos cacheados foi morar com uma tia, depois com outra e outra, até poder ficar sozinha, na escola se destacou escrevendo contos fantásticos e todas as noites ela orava aos grandes crocodilos para que no outro dia eles devolvessem o sol.

O crocodilo assassino, como castigo, foi libertado na natureza, e de lá não se sabe mais.