AMAR O TRANSITÓRIO
UMBERTO GONÇALVES
 
 

Outro dia lí numa revista, que o sol está morrendo. “Com as novas pesquisas os cientistas já sentenciaram: O ASTRO REI MORRERÁ.” E eu que pensava que o sol era eterno. Mas... Se o sol vai morrer, imagine o resto!

- Até as pedras? – Perguntou Anisio.

- Sim. As pedras também devem morrer.

- O Polo Norte, o Polo Sul... O mar também?

- Tudo, Nísio...Tudo um dia vai morrer. Desaparecer.

- Mas ouvi uma vez que nada morre, tudo se transforma...

- Isso tem uma razão. O sol ao morrer, se transforma em outra coisa.

- Que coisa?

- Agora deu! Sei lá... Pode ser numa explosão, um esfriamento total. Não fica mais como é. Entendeu?

- Não. Mas se esfriar, num tem mais praia. Ninguém vai querer ir pra praia sem o sol.

- Ora, Nísio. Acho que isso vai demorar tanto que nem a gente, nossos tataranetos vão alcançar.

- Ainda bem, né? Já pensou Dona Justa querendo ir na praia e não ter sol. Acho que nessa hora até mermo Deus vai ter medo dela. Tô fora!!

- Isso nos leva ao entendimento de que tudo é transitório.

- Tran... Trans... O quê?

- Transitório, Nisio. Quer dizer: Passageiro.

- Pelo visto, inté mermo amar é transitório.

- Isso. A gente ama mesmo é o transitório. A mudança, o sempre novo na pessoa amada. Como numa música que diz: “Tudo que se vê não é de novo, do jeito que já foi uma dia. Tudo passa, tudo sempre passará”.

- Só não é passageiro, o motorista e o cobrador...

- É. Quando o amor não se renova, não muda, não transita, acaba.

- Não dá pra entender direito.

- Quero dizer que para amar de fato, de verdade, deve amar o transitório. A mudança, a renovação do amor.